Trata-se mesmo de uma exaustiva maratona tentar acompanhar a programação dos 11 dias do Festival de Teatro de Curitiba, que começou na quinta e termina no domingo. Os teatros, crachás e coletes denunciam a forte presença de atores e diretores, que aproveitam sua participação no festival para ver o trabalho de seus pares. Mas o que orienta o espectador comum, aquele que não possui vínculo profissional com essa arte, a escolher por essa ou aquela peça entre as cerca de 200 do festival? Quais os critérios? A reportagem conversou com alguns deles para tentar descobrir.

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Não é difícil encontrá-los, mesmo longe dos teatros. Em bares e esquinas da cidade, eles podem ser vistos, em grupos ou solitários, lendo compenetrados o guia do festival, uma pequena revista distribuída gratuitamente em vários espaços culturais, com a programação completa do evento. Pouco mais de meio-dia. Duas mulheres estão sentadas, diante de um guia aberto, no saguão do Memorial de Curitiba. Itacione Pazinatto, de 24 anos, e Liliane Naday, de 45, ambas curitibanas, participam de um curso de fotografia em artes cênicas que integra a programação do festival e é ministrado por Shigueo Murakami.

"Nossa escolha é por local, pois queremos fotografar", surpreende Itacione. "Na 15 (ela se refere à famosa Rua das Flores, onde há muitos espetáculos ao ar livre) nem pensar, muita poluição visual", observa Liliane. Bem diferentes são os critérios do quarteto curitibano formado por Danielle Martini, de 28 anos, professora da Faculdade de Artes do Paraná, o recém-formado Roger Dörl, de 23, e os estudantes Fernanda Zamoner, de 20, e Anderson Müller Pereira, de 28 anos. Eles esperam o início do espetáculo Agda, de alunos da Unicamp, na entrada do Teatro Cultura, às 15 horas. Vir da universidade, para eles, é critério. Juntos, já viram 20 peças. Ainda assim, tiveram de escolher. "Lemos sinopses, discutimos, procuramos referências", diz Dörl. O interessante, no caso deles, é o que fazem após o espetáculo: dão notas. São dez quesitos, de texto a maquiagem, contabilizados numa planilha. "Todo mundo devia fazer isso; além de ser divertido, provoca muitas discussões", diz Danielle.

Bem mais prático é o critério de Eloana de Paula Scheletz, de 23 anos; Kelly Cristina Bernardino, de 21, e Suellen Bueno, de 20, todas operadoras de telemarketing que também têm o guia na mão e estão diante do Memorial, na rua. "Escolhemos peças ao ar livre, porque são de graça. No teatro, veremos uma hoje porque custa R$ 2", diz Eloana. "É, mas sou crítica. Vi uma peça na rua que tinha um muro; imaginário, claro. Aí o ator saiu correndo e esqueceu do muro. Eu observo isso. Assim não vale nem de graça", argumenta Kelly.

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Enquanto coloca máscara cirúrgica e avental, indispensáveis para ver a peça "Cosmogonia", no Espaço dos Satyros, às 19 horas, o economista Ivaldo Lopes, de 40 anos, fala de suas escolhas, quase todas peças de Curitiba. "Porque já conheço o trabalho. Também faço algumas escolhas na base do tiro no escuro, mas é um perigo, tem muita coisa ruim", diz. "Vi a Carmem do Antunes, quero ver o Luís Melo. Gostei de Metamorphosis", resume.

Interessante que são quase as mesmas peças escolhidas pela também curitibana Mariana Romaniv, de 17 anos, que às 20 horas está diante do Teatro da Reitoria, na companhia de sua mãe Ana Romaniv, de 40, para ver a peça do grupo Armazém, na mostra principal. "Leio sinopses, tento conciliar horários, mas acho também que o festival acaba sendo uma oportunidade para ver as peças locais", afirma Mariana que, contudo, iria ver a montagem paulistana Arena Conta Danton na noite seguinte. Talvez tenham espectadores que venham de outra cidade para o festival, mas a reportagem não os encontrou. Nos teatros, todas as pessoas abordadas que vinham de outras cidades eram participantes do festival.

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