Festival de Curitiba apresenta peça que fala sobre vida e morte

A pulsão da morte e da vida. Ora de forma dramática, ora de forma cômica – é disso que trata a peça de teatro Não assim tão longe, que estreou ontem na mostra Fringe do Festival de Teatro de Curitiba. Baseada em dois livros que contam relatos deixados por suicidas, a peça traz os dramas vividos por um homem e uma mulher que estão à beira de se matar. Apesar de tratar de um tema polêmico, a peça não faz apologia contrária ou favorável ao suicídio. Traz apenas a interpretação cênica do que se passou com pessoas que se mataram.

?Apesar de estarmos tratando de morte e vida conseguimos um resultado leve. Adaptamos alguns depoimentos que são tristes e engraçados também?, contou a diretora da peça, Maureen Miranda. Este é o primeiro trabalho de direção da atriz e a primeira produção da Insólita Companhia de Teatro, criada por ele e seu marido, o ator Daniel Siwek. O espetáculo teve curta temporada no meio do mês e vai voltar no Festival de Teatro de Curitiba entre os dias 20 e 26 deste mês no Espaço Dois – Casa de Artes em Curitiba.

As histórias interpretadas pelos dois atores foram baseadas nos livros Dicionário de suicidas ilustres e Suicídios: testemunhos de adeus. Poemas de Sylvia Plath, a vida de Virginia Woolf e cartas deixadas por pessoas comuns antes do suicídio são o ponto de partida para a discussão que Não assim tão longe pretende ter com o público. ?Muita gente finge que não quer saber do assunto. Essa é uma oportunidade de assumir que existe a pulsão da morte?, explicou a diretora. ?A gente tem a impressão que ela está longe, mas todo mundo sabe de alguém que se matou?, completou.

A peça não tem uma cronologia. Os dois atores – Siwek e Adriana Seiffert – interpretam várias situações como, por exemplo, a de uma garota de 20 anos que se mata na faculdade e deixa cartas para 20 pessoas justificando e colocando a culpa no sistema. Há um senhor que se mata porque tem câncer e outra senhora porque o filho nunca vai visitá-la. ?Com a nossa pesquisa descobrimos que a maioria das pessoas se mata porque foram abandonadas por alguém. Em São Paulo acontecem 60 suicídios por dia. Curitiba é a capital com maior índice de suicídios pelo número de habitantes?, contou a diretora.

O cenário da peça, dois banheiros, foram criados por Siwek. ?Eles estão caracterizados como banheiros, mas não têm essa função especificamente. Poderia ser uma cozinha, uma sala, mas escolhi banheiro porque é um lugar íntimo, onde as pessoas ficam só e colocam para o fora o que lhes faz mal. E traz também a coisa da vergonha?, explicou. ?O tema não é triste. É delicado e profundo?, finalizou Maureen.

Serviço: Não assim tão longe vai estar em cartaz na mostra fringe do Festival de Teatro de Curitiba, no Espaço Dois, na  Rua General Carneiro, 814.

As apresentações acontecem até o dia 26 de março, sempre às 22 horas.

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