Contagem regressiva para a Berlinale de 2013 – quatro, três, dois, um e? na quinta-feira (07), Berlim estende seu tapete vermelho e inicia a 63.ª edição daquele que é considerado o festival mais politizado do mundo. Mais que um grande diretor, um autor cult cujos filmes, impregnados de romantismo, possuem uma legião de admiradores em todo o mundo, o chinês Wong Kar-wai preside o júri que vai atribuir o Urso de Ouro. Ele próprio inaugura a seleção oficial – e abre o festival – com seu novo longa, “The Grandmasters”, com Tony Leung e Zhang Zhiyi. O filme conta a história de Ip Man, que treinou Bruce Lee para ser ícone das artes marciais.

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O que se espera de um grande festival de cinema? Berlim é, de fato, um dos três grandes, com Cannes e Veneza, embora cada vez mais a Europa em crise (a despeito da resistência da Alemanha de Angela Merkel) sofra a concorrência de Toronto, o evento de cinema que mais cresce no mundo? Grandes filmes, com certeza, encontros, debates. Berlim tem tudo isso, e, além da competição com os nomes prestigiados de Bruno Dumont, Steven Soderbergh e Jafar Panahi, tem também as mostras paralelas, nas quais o Brasil estará representado. Panorama, Fórum, Generation e agora Berlim Classics, que este ano se antecipa gloriosa, com as versões restauradas de filmes que fazem parte da história.

Grace Kelly vai pegar de novo as tesouras para matar seu presumível assassino em “Disque M para Matar”, de Alfred Hitchcock; o eternamente jovem Marlon Brando, imortalizado na tela como representação do erotismo masculino, vai levar mais uma vez aquela surra em “Sindicato de Ladrões”, de Elia Kazan; e “Tokyo Story”, uma das mais belas e tristes crônicas familiares de Yasujiro Ozu, vai revelar, ainda uma vez, que a simplicidade é o território dos maiores e que certas imagens essenciais, a despeito de sua elaboração, tocam por ser verdadeiras. Tudo isso é verdade, mas pouquíssima gente vai a um festival como o de Berlim para ver os clássicos, e sim para tentar descobrir quais serão os novos clássicos.

Depois de dois anos de cadeira vazia à espera de Jafar Panahi, preso no Irã, Berlim exibe o novo longa do diretor, “Closed Curtain”, prova de que a mobilização mundial em torno do autor de “O Círculo” não foi em vão. Você se lembra de Camille Claudel de Bruno Van Nuytten, com Isabelle Adjani? Esqueça, porque agora vem a de Bruno Dumont, com Juliette Binoche. Dumont é um cineasta na vertente de Robert Bresson, mas com estilo próprio. Busca aclarar os mistérios da alma, os grandes temas da religião e a busca da transcendência, quem sabe da ascese. A Camille Claudel de Isabelle nutria uma paixão tão intensa quanto destrutiva por Auguste Rodin; a de Juliette choca-se com a intransigência do irmão, o escritor católico Paul Claudel.

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A Berlinale sempre dá grande importância à família, até porque dentro dela existem relações de poder e Berlim, até 1989 dividida em duas metades – duas cidades, dois países -, foi longamente retalhada pela fratura familiar. Mas a Berlinale também se gaba de ser um ponto de (re)encontro e este ano estarão de volta o diretor Richard Linklater e os atores e roteiristas Ethan Hawke e Julie Delpy. Após “Before Sunrise” e “Before Sundown”, o trio vai apresentar “Before Midnight”. O que ocorrerá com o casal de apaixonados dos dois filmes anteriores antes da meia-noite para nos surpreender, mais uma vez? Por falar em surpresa, Berlim, com os rigores do inverno – e neve, quase sempre -, não se presta à mundanidade de Cannes, onde starlettes seminuas sempre fizeram parte da história do festival. Nem por isso se deve abrir mão do glamour – que todo festival precisa ter para ser grande na mídia – e este ano a expectativa fica por conta de Steven Soderbergh, que traz Jude Law, Catherine Zeta-Jones e Rooney Mara em “Side Effects”, ou o francês “Elle s’en Va”, de Emmanuelle Bercot, com a mítica Catherine Deneuve.

Um dos diretores mais premiados do mundo – duas Palmas de Ouro, Oscar, Globo de Ouro, etc. -, o dinamarquês Bille August decaiu tanto no conceito da crítica que chega a ser inesperado vê-lo reintegrar a seleção de Berlim com “Night Train to Lisbon”. Danis Tanovic, outro vencedor do Oscar, dá o ar da graça com “An Episode in the Life of an Iron Picker”. E Gus Van Sant, que também já ganhou sua Palma, agora busca a consagração do Urso de Ouro com “Promised Land”. No total, 19 dos 24 filmes da seleção oficial estarão competindo pelo cobiçado troféu. São produções da Áustria, Bélgica, Bósnia e Herzegovina, Canadá, Chile, Alemanha, França, Grécia, Hong Kong/China, Irã, Cazaquistão, Holanda, Polônia, Portugal, República da Coreia, Romênia, Rússia, Eslovênia, Espanha, África do Sul, Suíça e EUA. O Chile é o único país latino-americano da competição, com “Glória”, de Sebastian Lelio. A cerimônia de encerramento será no sábado, dia 16. No domingo, 17, a Berlinale reprisa os filmes da seleção oficial (e os vencedores de todas as mostras paralelas). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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