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Foto: Divulgação

Antônio Fagundes vai receber o Troféu Oscarito.

Para começar, aboliu o ineditismo como critério de escolha dos competidores; adotou, de novo, o sistema de duas mostras competitivas paralelas, uma para filmes brasileiros, outra para ibero-americanos; dispensou a tradicional curadoria de críticos gaúchos para escolha dos filmes e trouxe dois cariocas (Sérgio Sanz e José Carlos Avellar) para desempenhar essa função. Finalmente, seu presidente, Enoir Zorzanello, viu-se obrigado a se afastar do cargo, porque, como as contas dos eventos anteriores não fechavam, havia perigo de o festival não conseguir os patrocínios necessários para a edição deste ano.

Alguma coisa precisava mesmo ser feita, porque as edições anteriores tiveram safras de filmes muito ruins, o que acabou minando a credibilidade do evento. No meio cinematográfico, o Festival de Gramado foi, com justiça, acusado de prestar mais atenção às badalações dos astros globais que se exibiam na serra gaúcha do que com os filmes que pintavam na tela do Palácio dos Festivais. Tornou-se o paraíso de Caras e o inferno dos cinéfilos. A mudança de rumos beneficiará a qualidade? É cedo para dizer e esse balanço só poderá ser feito quando a mostra terminar.

Outra novidade deste ano: concorrem, juntos, em igualdade de condições, documentários e ficção – nas edições anteriores, essas duas categorias tinham premiações separadas. Este ano, predominam os documentários. São três – Atos dos homens, de Kiko Goifmann, Pro dia nascer feliz, de João Jardim, e Serras da desordem, de Andrea Tonacci. Competem com dois longas-metragens de ficção: Anjos do Sol, de Rudi Lagemann, e Sonhos e desejos, de Marcelo Santiago. Já para a mostra ibero-americana, foram selecionados cinco filmes hispano-americanos e um espanhol. Entre eles, o argentino 4 mujeres descalzas, de Santiago Loza, e duas parcerias da Argentina – uma com a Bolívia, Dí buen dia a papá, de Fernando Vargas, e outra com o Peru, Chicha tu madre, de Gianfranco Quattrini. Concorrem com eles o venezuelano ElcCaracazo, de Roman Chalbuad, o mexicano Mezcal, de Ignácio Ortiz Cruz e o espanhol El metodo, uma produção européia dirigida pelo argentino Marcelo Piñeyro.

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Além dos longas-metragens, haverá também o tradicional concurso de curtas em 35 mm (com 13 títulos) e 16 mm (oito títulos), além das homenagens, que todos os anos são prestadas pelas personalidades do mundo do cinema. Este ano o Troféu Oscarito será entregue ao ator Antônio Fagundes. O troféu Eduardo Abelim irá para o documentarista Vladimir Carvalho. E ao cineasta Nelson Pereira dos Santos, que há pouco se tornou membro da Academia Brasileira de Letras, será entregue uma comenda especial.

O formato deste ano pode não se repetir na edição seguinte. Gramado vive uma fase de transição e seus organizadores não escondem a ambição de transformá-lo em um festival de fato internacional. Há meios, materiais e intelectuais, para isso? Não se sabe. Em sua melhor fase, o festival foi exclusivamente brasileiro. Depois se tornou latino, porque não havia filmes nacionais em quantidade (e qualidade) para abastecê-lo, e, quando isso voltou a acontecer, com a retomada da produção nacional, optou por fórmulas mistas. Com tantas mexidas, e mais a preocupação obsessiva com o glamour, ficou sem cara definida. Tanta agitação e confusão expressam essa busca por uma identidade perdida. Veremos no que tudo isso vai dar.

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O Festival de Gramado de 2006, que começou ontem, chegou sob o signo da confusão. Em sua 34.ª edição, a tradicional mostra gaúcha está cercada de controvérsias e disputas políticas.