Festa do Grammy consagrou Robert Plant

Foi entregue no domingo passado o Grammy, principal prêmio da indústria musical. Foi feito um evento gigantesco (nas atuais proporções, pós-Napster, pós-pirataria global e pós-crise financeira internacional) no Staples Center, em Los Angeles, foram entregues exatas 110 estatuetas – um gramofone estilizado e dourado -, e foram homenageados o country Gene Autry, os vocais do Four Tops e o swing de Dean Martin.

(Esta, por sinal, foi uma justíssima homenagem. Dean ficou sempre em segundo plano, primeiro do talento de Jerry Lewis, depois da liderança de Frank Sinatra e do brilho inacreditável de Sammy Davis, Jr. na época do Rat Pack.

Mas ele foi um grande artista, talvez o maior showman que os Estados Unidos tiveram. Foi bom ator, ótimo apresentador e cantor de tremendo sucesso, ficando marcado por Everybody Loves Somebody.

Por seu estilo, virou quase palavra maldita nas décadas de 90s e 2000s, mas foi revitalizado nos últimos anos. O Grammy honorário e póstumo é mais que merecido. Fecha parêntese).

Voltando à festa de domingo passado, foi a consagração de dois artistas que não têm nada de jovem, nem estão envolvidos na onda musical do momento – a fusão entre o R&B, o funk e o rap, cantadas por moças esvoaçantes ou por rapazes fortões.

Os principais vencedores foram o ex-líder do Led Zeppelin, Robert Plant, e a cantora country Alison Krauss, com o álbum Raising Sand. Como conta a matéria da Agência Estado: “A dupla ficou com os dois principais prêmios da noite, – álbum do ano e gravação do ano, pela canção Please Read The Letter – além de conquistar as categorias colaboração pop com vocais, colaboração country com vocais e disco folk contemporâneo”.

Robert Plant e Alison Krauss ganharam, claro, porque fizeram um grande disco. Mas também ganharam porque fizeram música de qualidade fora dos rótulos de hoje.

Concorrem nas principais categorias do Grammy com artistas como M.I.A, Coldplay, Radiohead, Ne-Yo e Lil’ Wayne – roqueiros estilosos ou a turma do “R&B+rap”. Fora desta órbita, o roqueiro da terceira idade (Plant tem 60 anos) e a musa do bluegrass (um estilo de música country) trafegaram soltos e brilharam.

A união dos dois artistas é considerada a mais interessante parceria da atualidade. É movida pelo inusitado. Por mais que os anos passem, Robert Plant sempre foi da turma dos rebeldes, o cara que berrava nas epopéias do Led Zeppelin, que duelava com Jimmy Page (este na guitarra) para ver quem era ouvido mais longe.

De outra parte, Alison Krauss seguia entre o country mais tradicional, que sempre lhe renderam boas críticas e boa repercussão, e temas mais românticos, que acabavam fazendo sucesso. A rigor, nada os unia.

A não ser que você olhe para dentro deles. Robert Plant semeou o rock em uma geração, mas foi formado não só por ele, mas também pelo folk e principalmente pelo blues.

Alison bebe diretamente nesta fonte, pois vem de uma linhagem de cantoras de folk, desembocando no bluegrass, que se aproxima mais do blues e permite até as improvisações tão comuns no jazz – e que, nossa!, o Led Zeppelin se permitia fazer.

Por isso a união que tinha tudo para dar errado deu tão certo. Algo completamente diferente do que se ouve na maioria dos álbuns de sucesso. O interessante de tudo isso é que, quando Plant fez grande sucesso popular, nunca teve a consagração que teve depois dos 50 anos – a idade que tinha quando ganhou o primeiro Grammy, ainda na parceria com Jimmy Page. E precisou sair do rock para colocar definitivamente seu nome no panteão dos grandes da música mundial.

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