Neste ano, em especial, o cinéfilo paulistano tem tido oportunidade de (re)visitar a obra de grandes diretores do cinema italiano. Todo Luchino Visconti, filmes importantes de Roberto Rossellini. Mas isso é história, tradição – mesmo que Rossellini tenha sido o arauto da modernidade, com suas propostas de desdramatização do roteiro, e Visconti, com seu classicismo, tenha filmado o mal-estar de sua classe, a aristocracia, apontando para alianças burguesas e reivindicações do proletariado. É tempo agora de celebrar as novas gerações. Está no ar a 8 1/2 Festa do Cinema Italiano, que vai até dia 8, atingindo 12 cidades brasileiras.
É a 13ª edição do evento, que vem recheado de atrações e com filmes avalizados nos maiores festivais do mundo. Edoardo Pesce, um dos protagonistas de Dogman, está na cidade para conversar com o público sobre o poderoso filme de Matteo Garrone. Depois de provocar impacto com Gomorra, Garrone iniciou uma trajetória mais ou menos ziguezagueante com Reality e O Conto dos Contos, mas agora recupera o fôlego e se reafirma como o grande diretor que é. Dogman recebeu em Cannes, em maio, o prêmio de melhor ator, que foi para Marcello Fonte, que faz o tímido e solitário dogsitter oprimido pelo brutamontes que Pesce interpreta.
Em conversa com o jornal O Estado de S. Paulo, Pesce contou como esse papel tão forte surgiu em sua vida. “Simples, Matteo (o diretor Garrone) me chamou para almoçar e me falou do personagem. Convenceu-me antes mesmo que eu tivesse lido uma linha do roteiro. Depois disso, fizemos uns três meses de preparação. Eu comia muito para atingir massa física e ele buscava nosso protagonista. Finalmente, encontrou Marcello (Fonte), um naturale – ator não profissional. Fizemos testes, atuando juntos, e Matteo aprovou.” E ele prossegue – “É fácil definir o filme como uma fábula de vingança, mas creio que Matteo fez algo mais. Um filme sobre o fascismo que nunca deixou de rondar a Itália. Criei o personagem como um bruto, não muito inteligente. A acolhida ao filme indica que todos acertamos o tom.”
Melhor atriz na mostra Un Certain Regard do ano passado, Jasmine Trinca é a protagonista absoluta de Fortunata, novo filme dirigido pelo ator Sergio Castellitto, sobre cabeleireira que cria a filha sozinha e enfrenta as dificuldades da vida movida pelo sonho de possuir o próprio salão. No segundo semestre de 2017, por diversos fatores – o sucesso de Mulher Maravilha, as denúncias contra o produtor Harvey Weinstein, o fortalecimento do movimento #MeToo, etc. -, o tema das mulheres poderosas ganhou destaque em todo o mundo. Como se empoderam as mulheres comuns? O filme de Castellitto fornece uma boa resposta, mas é curioso assinalar que se trata de um homem, de mente aberta, refletindo sobre os mistérios do feminino.
Para permanecer na categoria ‘vencedores’, é necessário destacar Nico, que venceu a mostra Horizontes, em Veneza, 2017. O filme de Suzanna Nichiarelli conta a história da lendária cantora do Velvet Underground. Nascida Christa Päffgen, seu pseudônimo é um anagrama de ‘Icon’, Ícone. Morreu em 1988, aos 49 anos, entupida de drogas, mas celebrada como musa de Andy Warhol, mulher e atriz de Philippe Garrel. E ainda teve tempo de ter um filho com Alain Delon, criado pelos pais dele. A Festa do Cinema Italiano traz filmes de primeira, e o melhor – todos com garantia de distribuição no País.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.