Ferreira Gullar lança novo livro de poesia em SP

O poeta Ferreira Gullar completou 80 anos na sexta-feira, ao lado de amigos, mas a data vinha sendo motivo de comemoração ao longo do ano. Não apenas pela conquista de vida – ele continua exibindo uma saúde invejável -, mas também por coincidir com o lançamento de um novo livro, algo que não acontecia desde 1999: “Em Alguma Parte Alguma”. São 59 poemas inéditos em que o poeta trata desde o exílio (experiência que viveu na Argentina durante a ditadura militar) até frutas podres.

Gullar lança hoje o livro em São Paulo, na unidade da editora Record da Livraria Cultura do Conjunto Nacional. No Rio, onde vive, a festa aconteceu na semana passada e reuniu muitos amigos e fãs. Uma celebração ao ato criativo, pois Gullar costuma dizer que não planeja o surgimento de um livro. “Não tenho planos”, disse ele ao Estado no ano passado. “Aos poucos, a obra vai tomando forma, surgindo caminhos que definem o rumo dos poemas. E é o livro que tem de me dizer que está pronto.”

Essa incerteza consentida marca também o surgimento dos versos – Gullar conta que o poema nasce do espanto, sem regras definidas, um momento em que a vida lhe revela algo desconhecido. “Você acorda e, ao olhar para o céu, observa uma determinada nuvem azul e aquilo provoca um choque. Como descrever aquilo? É nesse processo que invento uma forma de dizer, descubro um caminho diferente no próprio realizar do poema que é incorporado ao trabalho e essa rotina acaba se repetindo na feitura de outros poemas.” É o que explica a diversidade de assuntos de “Em Alguma Parte Alguma”. O Jasmim, por exemplo, surgiu a partir de uma epifania provocada pelo perfume da flor quando o poeta deixava a casa da namorada Cláudia Ahimsa. Já a predileção por frutas podres como tema, dessa vez, é contemplada com a banana.

Colagens

Outra boa surpresa é oferecida pelo livro “Zoologia Bizarra” (Casa da Palavra, 88 páginas, R$ 55) em que Gullar escreveu frases poéticas e irônicas para as colagens que fez a partir do recorte de correspondências e convites. “Foi meu gato, que se chamava Gatinho, que me revelou a importância do acaso na expressão artística”, escreve. “Ao desarrumar os recortes coloridos, mostrou-me uma nova composição em que dialogavam a ordem e a desordem, o estabelecido conscientemente por mim (o desenho) e o que ele, gato, involuntariamente (?) provocara.” O resultado é uma adorável brincadeira que também se pode levar a sério. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em Alguma Parte Alguma – Livraria Cultura – Loja Record. Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073). A partir das 19 horas.

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