Enquanto Michael Jackson compra 40 mil bonecas barbies para dar de presente a meninas pobres da República do Congo, Marileide Lima, 20 anos, solteira, fã incondicional do astro pop recebe por seu trabalho, como balconista de uma loja de tecidos, um salário mínimo. Dá 90% para seu pai e com o restante compra um pôster duplo do ex-integrante do Jackson Five. Marileide mora num bairro pobre da periferia de São Paulo, no Brasil. Leva horas dentro de um ônibus para ir e voltar do trabalho. Tem de dividir um único cômodo com seus 13 irmãos. Todos homens. Mas, mesmo com todas as dificuldades do dia a dia, ela junta forças e vai a Tenda do Caboclo Eduardo: quer fazer uma macumba pra se casar com Michael Jackson.
Esse é o enredo de uma das Histórias Extraordinárias de Fernando Bonassi, um dos autores da minissérie Carandiru, outras histórias, exibida pela TV Globo e do programa infantil Mundo da Lua, exibido pela TV Cultura. Bonassi, que é colunista da Folha de São Paulo, usa de seu humor e de sua habilidade em três narrativas curtas para seduzir o leitor que não tem tempo. Segundo o próprio autor, além de ajudar a aperfeiçoar o próprio estilo do autor, os contos servem para mostrar as pessoas que não lêem que elas podem, sim, ter uma experiência literária quando lhes sobram algum tempo.
O também roteirista e dramaturgo faz esse exercício de concisão de forma maestral e transita tanqüilamente entre diversos temas comportamentais e polêmicos. Da solidão de Michael jackson, passando por uma crítica irreverente sobre o imobilismo das novas gerações, a um conto que lembra o hit de Waldick Soriano: ?Eu não sou cachorro não? que, segundo Bonassi, foi escrito para ser lido em voz alta. O texto já foi interpretado e aprovado pelo ator Celso Frateschi, em 2001. Agora, ele é reapresentado ao público em forma escrita, o quê lhe dá ainda mais clareza ao discorrer sobre a própria existência humana.
?O fotógrafo, as crianças, as loucuras, as doenças, as frituras… mas já passou … foi só um ?clic?, alguém teve ou deu um estalo, ou um escândalo, e muitas coisas mais longas, loucas e inimagináveis se passaram desde que eu estou aqui. Muitos muros caíram, muitos murros foram dados nas mesas, alguns icebergs se moveram contra os continentes gelados, os mares mais quentes e delicados se levantaram insurgentes contra os turistas extasiados e as bolsas caíram de dar inveja aos ladrões de Ali Babá com seus quarenta petroleiros de Bagdá ‘, narra Fernando Bonassi em ?O incrível menino preso na fotografia?. ?Vidas paralelas? e o já mencionado ?Eu não sou cachorro? – assim mesmo, sem o segundo não de Waldick Soriano – são os outros dois títulos das histórias.
Em meio a tudo isso, surgem ilustrações em preto e branco do desenhista Caeto, que já ilustrou outras obras de Bonassi. Os desenhos ora remetem a imparcialidade do narrador, ora dá tons e elementos para que o leitor possa dar asas a imaginação e reviver suas próprias histórias extraordinárias. Afinal, todos nós somos, seremos ou já fomos jovens, já tivemos ímpetos de agarrar o futuro com as mãos. Sentimentos potencialmente cultivados, tão inerentes à juventude. Quem nunca sofreu com a solidão ou por um grande amor. Que tipo de existência teríamos se não houvesse mais nada a ser aprendido, entendido e questionado.
Os autores
Nascido na Mooca, em São Paulo, em 16 de novembro de 1962, Fernando Bonassi é formado em Cinema pela Escola de Comunicações e Arte (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Além de escritor, é roteirista, dramaturgo e cineasta.
Até agora são 33 livros, entre romances, contos, poemas e antologias; quatro filmes dirigidos; 18 roteiros de curtas e longas, entre eles Os Matadores, Castelo Ra Tim Bum, Estação Carandiru e Cazuza (de Sandra Werneck). Na dramaturgia teve a oportunidade de trabalhar com Ligia Cortez, Jean Claude Bernardet e Tata Amaral, como colaborador e co-roteirista em Um Céu de Estrelas. Também adaptou a peça Woyzec, de Georg Büchner, em parceria com o ator Matheus Nachtergaele. Já recebeu diversos prêmios tanto como dramaturgo, quando como roteirista, no Brasil e no Exterior. Vencedor da concorridíssima bolsa do Kunstlerprogramm do DAAD ? Deutscher Akademischer Austauschdienst ? o que lhe rendeu um ano em Berlim (1998) escrevendo O livro da vida (crônicas). Desde 1997, é colunista da Folha de S. Paulo.
Caeto está desde 2001 no mercado e sua primeira participação em livro infanto-juvenil foi no Balada, de Heloisa Prieto (Ed. Brinque-book). O traço de Caeto também pode ser identificado na obra de Esmeralda Ortiz em Diário de Rua. Com Fernando Bonassi, Caeto já ilustrou e fez capa de outros dois livros de contos: Entre Vida e Morte (Ed. FTD) e 100 Coisas (Ed. Angra), respectivamente. Atualmente ele produz a Revista Radioatividade, especializada em quadrinhos.
Serviço
Título: Histórias Extraordinárias
Autores: Fernando Bonassi e Caeto
Preço: R$ 23,00