Fernanda registra pesquisa de 30 anos

São Paulo (AE) – Figura pagã de grande influência poética sobre as religiões monoteístas, tradição oral e literatura, descrita como deusa e também como um ser demoníaco, mas sempre como exemplo de astúcia, a rainha de Sabah permanece como um dos maiores mistérios da história.

Para encontrá-la, a arqueóloga carioca Fernanda de Camargo-Moro se valeu de sua experiência de 30 anos em pesquisas no Oriente Médio e uma boa dose de intuição, seguindo pela milenar Rota do Incenso os passos daquela que é descrita pela Bíblia como a mulher que levou ouro e incríveis preparados aromáticos a Jerusalém em busca da sabedoria do rei Salomão.

As mais fortes interpretações da figura e, principalmente, como o mito chega aos nossos dias para moldar o ideal de feminilidade estão no novo livro da pesquisadora, As caravanas da Lua – Pela Rota do Incenso em busca da rainha de Sabah (Record, 462 páginas, R$ 56). Fernanda se apóia em fatos históricos, lendas e até nas receitas passadas de mães para filhas no deserto para nos apresentar a personagem. Mistura ensaio científico com diários de sua viagem pela Rota do Incenso, misterioso caminho que levava os aromas mais especiais da Arábia para os grandes centros de comércio da época.

A passagem conhecida sobre a rainha foi seu encontro com Salomão, que tem várias interpretações. Uma narrativa dos hebreus diz que um pássaro pousou na janela do rei para contar que, após percorrer o mundo, havia descoberto apenas um lugar onde o nome dele não era conhecido. Era a terra de Sabah, provavelmente localizada na Arábia, atual Iêmen. Insatisfeito, Salomão teria recebido a rainha e desfeito todos os seus enigmas. Subjugada, ela teria abraçado a fé dos judeus.

Mas há outras ?rainhas de Sabah??, e todas elas desfilam no livro de Fernanda. Para os etíopes, ela seria originária de Axum, capital do primeiro reino da Etiópia. A história de Makeda, o nome dela ali, é ligado aos primórdios do cristianismo no país e a define como uma mulher maravilhosa com pés de cabra, que teria se apaixonado por Salomão e gerado um filho dele.

No Alcorão, ela espelha a tensão entre masculino e feminino e, ao chefiar um povo que insiste no paganismo, representa as forças demoníacas que impedem o bom funcionamento da sociedade.

De todas as interpretações, das científicas às fantasiosas, é certa para Fernanda a influência da rainha sobre a maneira como as religiões monoteístas retratam mulheres como Maria e Maria Madalena. ?Creio que ambas tenham existido, mas não nego que a rainha as influenciou, lembrando que são figuras femininas do Oriente Médio?, analisa.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo