O cineasta italiano Federico Fellini pretendia fazer um filme em Nova York, tendo como protagonista Marcello Mastroiani, que interpretaria um vendedor de aparelhos sanitários, revelou um documentário dirigido pelo jornalista e crítico de cinema Paolo Aleotti.
“Fellini ficou um mês em Nova York estudando o projeto, mas desistiu porque, como ele mesmo explicou, não sabia sequer como os americanos usavam o papel higiênico”, relatou o diretor americano Paul Mazursky no documentário, feito para a mostra “Fellini” do Museu Guggenheim de Nova York.
Aleotti, que teve a colaboração da também jornalista e crítica de cinema Marina Sanna no documentário produzido pelo Instituto Luce, entrevistou também o cineasta Robert Altman, que falou sobre a enorme influência de Fellini não apenas em seu trabalho, mas também na própria vida.
Tanto o filme de Aleotti como a mostra do Museu Guggenheim fazem parte das numerosas homenagens ao genial diretor italiano realizadas dez anos após sua morte, ocorrida a 31 de outubro de 1993.
Outros dois documentários foram feitos especialmente para recordar o cineasta: “Fellini: sou um grande mentiroso”, de Damian Pettigrew, baseado numa série de entrevistas do diretor de “La dolce vita”, e “L?ultima sequenza”, de Mario Sesti, sobre o final inédito de “Oito e meio”, apresentado com grande sucesso no Festival de Cannes e vendido a vários países.
As entrevistas de “Fellini: sou um grande mentiroso” foram feitas um ano antes da morte do diretor. São 105 minutos em que se explora o mítico mundo de Fellini, desde a infância até seu último filme, da carreira aos sonhos e as contradições, com depoimentos de amigos, técnicos e atores.
“L?ultima sequenza”, por sua vez, trata do final inédito que Fellini havia filmado mas depois substituiu no clássico “Oito e meio”: a seqüência de um trem que se dirige para o nada, com os protagonistas do filme vestidos de branco.
Sesti teve a idéia de realizar seu documentário quando descobriu, entre milhares de fotos inéditas feitas pelo jornalista americano Gideon Bachmann no set de “Oito e meio”, enquadramentos inéditos feitos no vagão restaurante de um trem onde estavam todos os personagens do filme.
Fellini começou a ser aclamado com “La dolce vita”
Nascido em Rímini em 1920, Fellini chegou a Roma adolescente e ganhou a vida fazendo caricaturas para a revista “Marco Aurélio”. Também escreveu roteiros para cinema, até que conseguiu estrear na companhia de Alberto Lattuada, em “Luci di varietà”, um retrato agridoce do mundo da comédia, em uma Itália que acabava de sair de uma guerra desastrosa e que sofria com a fome e a miséria.
Graças a sua amizade com Alberto Sordi, para quem escrevia roteiros radiofônicos, Fellini realizou os primeiros filmes como solista do famoso comediante e depois se dedicou a lançar a carreira de sua esposa com “La strada” e “As noites de Cabíria” (que lhe renderam dois de seus quatro Oscar).
Foi, porém, com “La dolce vita”, imenso retrato de uma Roma em pleno milagre econômico onde se juntavam uma aristocracia decadente, novos ricos, gente de cinema, cronistas e fotógrafos, que o nome de Federico Fellini começou a ser aclamado.
Nesse período nasceu sua grande amizade com Marcello Mastroianni, que será seu alter ego em uma série de filmes, cuja influência no mundo do cinema só é comparável à de outro gigante da sétima arte, Orson Welles.
Fellini soube interpretar como poucos a alma italiana e dez anos após sua morte confirma-se como um gênio sem herdeiros, mas cuja marca é sentida em centenas e milhares de imagens “fellinianas”, em toda a cinematografia mundial.
