Muitos atores passam a incômoda sensação de ?déjà vu?. Basta observar que alguns deles  repetem sucessivamente o mesmo tipo de personagem na tevê. Afinal, em alguns casos, o tipo físico dos atores pode interferir diretamente no perfil de personagens. Diferentemente do teatro, que permite qualquer licença poética na escalação dos atores, a teledramaturgia exige um maior realismo e uma compatibilidade visual entre personagem e ator para que o trabalho se torne crível.

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Com isso, certos personagens se tornam repetitivos e alguns atores ficam até marcados por só fazerem o mesmo gênero de papéis. Guilherme Weber, por exemplo, que já viveu o altivo Tony em Da cor do pecado, e o ricaço Benny em Queridos amigos, agora interpreta o excêntrico estilista Artur X em Ciranda de pedra. Ou seja, sempre personagens esnobes e bem-sucedidos. ?O fato de ser louro, alto e ter olhos azuis me leva a ter personagens ricos e, no máximo, extravagantes. A tevê precisa passar rapidamente uma informação visual, o que confirma que a telenovela está rodeada de clichês?, analisa Guilherme.

O mesmo acontece com Cláudia Raia, que vive a perua Donatela em A favorita. Apesar de já ter feito mulheres de diversas classes sociais, a atriz, em ótima forma física, sempre interpreta mulheres sensuais na tevê desde sua estréia em novelas como a prostituta Ninon em Roque Santeiro. ?Sou uma mulher muito grande, sexy, extravagante. Nunca neguei isso porque também tenho talento. É mais um atributo?, valoriza a atriz. Dos mais altos aos mais baixinhos, dos negros aos louros, vários atores se adaptam melhor a determinado tipo de papel por características mais simples, como um rosto e uma estatura tipicamente brasileira. Matheus Nachtergaele, apesar da descendência belga, constata que tem o tipo físico que se encaixa desde um personagem trabalhador urbano até um peão de interior, como o Carreirinha de América. ?Os autores já sabem que podem pensar em mim para tipos assim, como marginal, travesti, peão, alcoólatra. Esses papéis me agradam muito. São impressões bem brasileiras?, avalia Matheus.

Nem todos podem ser tão camaleônicos em tipos populares. Dalton Vigh, por exemplo, tem certeza de que nunca vai ser escalado para interpretar um feirante ou um mecânico. ?Já me conformei. O meu tipo físico de 1,90 m de altura me restringe a certos papéis?, admite Dalton, que fez o empresário Marconi Ferraço em Duas caras.

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Apesar das semelhanças entre ator e personagem serem cada vez maiores no ritmo industrializado das novelas, no passado, essas analogias não eram tão relevantes e passavam despercebidas. Afinal, no início das telenovelas no Brasil, a referência era o teleteatro, com maiores interferências do teatro.

Inspiração histórica

Enquanto diversos atores se repetem em tipos parecidos porque têm uma característica física adequada aos papéis, outros fazem de tudo para ficarem semelhantes aos personagens. Isso acontece quando os atores se preparam para interpretar figuras que já existiram, como personagens históricos. É o caso de Larissa Maciel, por exemplo.

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A atriz foi a escolhida pelo autor Manoel Carlos e pelo diretor Jayme Monjardim para viver a personagem-título da minissérie Maysa, que estréia em janeiro de 2009. Segundo Maneco, o tipo físico para um determinado personagem é mais que fundamental quando se trata de uma obra sobre alguém que existiu, como em tramas históricas. Para a minissérie, ele e Jayme apostam nas incríveis semelhanças físicas da estreante com a cantora, mãe do próprio Monjardim. ?Nesse caso, era fundamental que Larissa se parecesse com Maysa. Em qualquer obra é preciso existir verossimilhança física entre ator e personagem. Mas aqui é essencial?, explica Maneco.