Principal encontro mundial do livro, a Feira de Frankfurt abriu suas portas sob o sinal de alerta – como o mundo árabe é o convidado de honra, um cuidadoso esquema de segurança foi preparado pelos organizadores a fim de receber sem nenhum problema as 95 personalidades de 17 países árabes que prometeram presença, inclusive o secretário-geral da Liga Árabe, Amro Mussa.
Cientes da “sensibilidade política” dos debates que acontecerão entre seus convidados, os organizadores da feira asseguram que se tomaram estritas medidas de segurança para prevenir incidentes, uma vez que cerca de 200 escritores árabes vão circular na feira. O rigor será necessário, pois diversos grupos judeus pretendem protestar contra a participação dos árabes.
Entre as ações programadas, estão desde as mais simbólicas (como a colocação de uma vela diante das portas, para destacar a falta de estruturas democráticas nos países árabes) até as mais efetivas – no sábado, está prevista uma concentração de grupos estudantis da universidade e da escola técnica superior de Frankfurt, além de membros da Organização Sionista da Alemanha. Juntos, eles vão pregar o lema: “Troca de regime no lugar do diálogo crítico”.
A Feira de Frankfurt, que acaba no domingo, começa com otimismo. Afinal, depois de apresentar uma queda na participação em 2001 e 2002, a edição deste ano conta com cerca de 6.700 expositores de mais de 110 países. E, pela primeira vez em anos, houve uma lista de espera devido principalmente ao grande interesse de países de língua inglesa.
Brasil na feira
Cerca de 90 editores brasileiros estão presentes, a maioria ocupando estandes pequenos, mas todos dispostos a iniciar ou mesmo concretizar negócios em andamento. Como destaque, além dos grandes selos, haverá a presença da Liga Brasileira de Editores (Libre), que comparece pela primeira vez de forma institucional. Com 85 filiados, a Libre vai representar 39 dos pequenos editores que se inscreveram no evento. Outra presença marcante será a da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (Abeu) que, com 107 membros, vai representar 33 deles.
A participação brasileira acontece em um grave momento vivido pelo mercado editorial, que vem encolhendo no País – entre 1995 e 2003, o número de títulos lançados caiu 13% e o de exemplares editados, 10%. Com isso, o valor dessas vendas caiu 10%. Mesmo assim, os editores revelam otimismo em participar da feira.
Editores brasileiros eufóricos na exposição
A Feira de Frankfurt é um importante processo de garimpagem para os editores brasileiros. Se por um lado o evento já não é mais tão decisivo na conclusão de negócios (o avanço tecnológico permite que isso aconteça a qualquer hora), ainda possibilita o estreitamento de relações.
“Antes de iniciar as perfurações, uma empresa petrolífera estuda o terreno e busca descobrir todas as possibilidades de acerto. É assim que funciona a Feira de Frankfurt para os editores”, compara Sérgio Machado, editor da Record, que participa da feira pela 31.ª vez. “Como há muito mais material que minha capacidade de leitura pode absorver, busco utilizar um processo que diminui os riscos de acertar a compra de uma obra errada.” Daí a necessidade, segundo ele, de estar presente ao evento – nenhuma tecnologia de ponta substitui o contato pessoal, o encontro mais demorado, a conversa fortuita durante um café.
Desconfiado de tais momentos, Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, sente-se cada vez menos motivado a ir a Frankfurt. “É preciso muito cuidado para não cair no conto do boato”, explica. “Quando menos se espera, uma indicação já correu de boca em boca e inicia um leilão com cifras absurdas, provocando o pavor em quem teme perder um best seller.”
Mesmo concordando com os perigos de tantos riscos, Roberto Feith, da Objetiva, habitualmente chega a Frankfurt com a agenda lotada e uma série espartana de atividades. “Busco cumprir três tarefas: receber mais informações de títulos adquiridos mas ainda não publicados, apresentar dados de obras já editadas por aqui e, com o território já mapeado, sair em busca de novos títulos”, comenta ele.
A busca por novidades, aliás, será executada com muito cuidado pelos representantes da Liga Brasileira de Editoras (Libre), que reúne pequenas e médias empresas. “Não temos condições de poder comprar tantos títulos como as grandes”, explica o presidente da Libre, Angel Bojadsen, editor da Estação Liberdade. “Daí a necessidade de uma escolha bem apurada.”
Editora promove concurso
A W11 Editores, responsável pela publicação dos livros de Michael Mo-ore no Brasil e também pelo site brasileiro do polêmico escritor e cineasta que tornou-se um dos maiores críticos do atual governo dos Estados Unidos, está promovendo o concurso Desembush. O internauta deve criar e cadastrar no site www.michaelmoore.com.br uma frase de protesto contra o governo Bush. O primeiro e o segundo colocados serão premiados com títulos da coleção Pedras no Telhado de Vidro da Casa Branca, composta por livros que têm em comum o fato de criticarem a atual administração americana. O autor da melhor frase vai ganhar também o novo livro de Moore, “Cartas da zona de guerra – Será que um dia voltarão a confiar em nós?” Mais detalhes sobre o regulamento e a premiação do concurso podem ser encontradas no próprio site.