Na entrevista que deu ao Caderno 2, de Paris, pelo telefone, o diretor de Os Cowboys, Thomas Bidegain, ficou muito contente de saber que Fatima também está em cartaz nos cinemas brasileiros. Ele gosta muito do filme de Philippe Faucon e acha que, com o dele, os dois apresentam visões complementares sobre a questão islâmica na França. Os Cowboys é sobre pai e filho que procuram a filha e irmã que fugiu de casa para se ligar a um islâmico. Fatima é sobre essa mulher argelina que cria com dificuldade suas duas filhas na França.
Os Cowboys é um filme de gênero, um western contemporâneo. Fatima não segue nenhuma trilha de gênero. É um drama – ficção -, mas com uma pegada verista, quase de documentário. Apesar do título, a história não é só de Fatima, mas de suas duas filhas. O que está em discussão é a integração dos estrangeiros. A França, tradicionalmente, sempre foi um país que, dentro da tradição republicana, deu abrigo a exilados. Em tempos mais recentes, tem havido resistência – dos conservadores e direitistas – aos direitos dos magrebinos.
As filhas nasceram na França, dominam a língua do país. A mãe, divorciada, não. Fala o árabe argelino. Em francês, é analfabeta. Mas dá duro para manter as filhas na escola, e para que a mais velha entre na faculdade. Essa garota reconhece o esforço da mãe. Respeita-a. A mais nova vive agredindo Fatima porque trabalha como faxineira. Limpa a m… dos outros. A revolta consome a jovem, que apresenta baixo rendimento nos estudos.
Faucon fez um filme extremamente econômico. Austero. Há algo de Abdellatif Kechiche nessa questão da linguagem inserida no drama. Assim como a filha se prepara para o bac, o vestibular, a mãe também ingressa num curso para aprender francês. O desfecho marca uma etapa. É visto como parte de um processo de crescimento. Nada de gran finale – discrição. Fatima ganhou os principais prêmios do cinema da França em 2015/16. Prêmio Louis Delluc – o chamado Goncourt do cinema -, Prêmio do Sindicato Francês de Críticos, Prix Lumière, da Associação de Jornalistas Estrangeiros, para o melhor roteiro. Coroando tudo isso, o César – o Oscar francês – como melhor filme e melhor roteiro adaptado (de Prière à la Lune, de Fatima Elayoubi). Com tudo isso, faltou um prêmio para Soria Zeroual, excepcional no papel-título.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.