Fase adulta

Enquanto todas as mulheres querem manter a cara de menina, Carla Marins só pensa em envelhecer. Tanto que, ao aceitar o convite para participar de Pé na jaca, adorou a chance de interpretar uma mulher mais madura. Questão de sobrevivência. Apesar dos 38 anos de idade e 21 de carreira, ela diz que até hoje ainda é vista como Joyce, a adolescente rebelde que interpretou em História de amor, de 1995, e que tinha 10 anos a menos que a atriz. Carla procura fazer a transição entre personagens jovens e maduras, antes que fique irremediavelmente marcada como uma atriz de papéis juvenis. ?A Dorinha desfaz um pouco esta imagem porque é mais densa e tem conflitos de mulher madura?, explica.

A parceria com Carlos Lombardi já é antiga. Carla esteve em Bebê a bordo e fez participações especiais em Kubanacan e Bang bang. Para a atriz, o que mais lhe atrai nas tramas de Lombardi é a mistura de gêneros que ele promove. ?Ele usa drama e comédia simultaneamente. Acho seu trabalho ousado, não dá para assistir e confundir com o de outro autor?, elogia. Tanto que foi difícil para Carla encontrar o tom de sua personagem. Para isso, usou uma tática que sempre funcionou em seus outros trabalhos. ?Assisto todos os capítulos, mas não reparo só em mim. Tem gente que não faz isso. Se você não enxergar a obra inteira, pode destoar do resto do elenco?, pondera.

Para Carla, Dorinha foi um passo a mais em direção aos personagens mais maduros. Em 2001, em Porto dos Milagres, a atriz interpretou Judith, esposa de um pescador e mãe de um garoto de oito anos. Agora, em Pé na jaca, sua personagem tem um filho de 14. Isso ameniza seu receio de não conseguir muitos papéis instigantes por conta do ar jovial. ?Cheguei em um ponto da carreira em que tenho cara de garotinha e quase 40 anos. Ainda não tive problemas, mas sei que isso pode me atrapalhar?, avalia.

Os conflitos afetivos de Dorinha têm sido ingredientes de grande estímulo para Carla. Desde que a história entrou no ar, a atriz já percebeu mudanças na personalidade dela, que exigem mais cuidado. Até o figurino de Dorinha está mudando depois que sua paixão por Lance, de Marcos Pasquim, recuperou fôlego e sua sensualidade reapareceu. ?Antes gravava com roupas em tons escuros, como marrom e verde- musgo. Agora os panos estão ganhando cor. E só apareço de vestidinho?, conta.

Entre Pé na jaca e sua última novela inteira, Porto dos Milagres, Carla decidiu tirar quase cinco anos para se dedicar a outros prazeres. Além de se mudar para a França durante um ano para estudar francês e interpretação – plano antigo da atriz -, quis investir em um curso universitário. Para isso, meteu a cara nos livros e fez vestibular para o curso de Teoria do Teatro da Unirio, no Rio de Janeiro. E passou. ?Comecei muito cedo, sentia falta de ter um diploma. Parece que meu curso não serve para nada, mas dá uma base de teatro que pouca gente tem idéia?, justifica.

A formação teatral é a maior preocupação de Carla desde então. Depois de iniciar a carreira aos 17 anos em Hipertensão, em 1986, a atriz emplacou, em quinze anos seguidos, doze novelas inteiras. Currículo extenso e repleto de personagens diferentes e instigantes, na opinião de Carla. ?Tive várias oportunidades, mas chega uma hora em que a tevê fica leve demais. Preciso de trabalhos mais densos, e nem sempre uma novela pode dar isso?, diz. Assim que terminar de gravar Pé na jaca, Carla pretende voltar aos palcos em uma peça que mistura três farsas. Vai dividir o palco com os colegas Sérgio Marone, Natália Lage e Marcos Breda.

Plena forma

Carla Marins não se sente uma mulher vaidosa, mas admite que estar no ar mexe com sua preocupação na estética. Tanto que, desde que assinou com a Globo sua entrada em Pé na jaca, não descuida da malhação. O resultado pode ser visto na definição dos músculos. ?Talvez não me grile com isso porque olho no espelho e vejo que estou bem. Mas não posso arriscar mudar meu físico quando estou em uma novela?, fala.

A auto-estima é tanta que a idade, por exemplo, é uma preocupação apenas profissional para Carla. Para a atriz, o que é transmitido na tevê é quase sempre um reflexo das coisas que acontecem na sociedade, ainda machista. ?Isso é cultural. O homem pode ser galã depois dos 40, mas para a mulher é mais complicado. Se faz par com um ator jovem, é a coroa ?pegando? o garotão?, contesta. Apesar disso, Carla não sabe se as atrizes que estão aparecendo vão conseguir se manter na carreira por muito tempo. Isso porque não é todo mundo que investe no estudo aprofundado da interpretação. ?Não quero menosprezar a tevê, mas nem sempre ela dá a base necessária sozinha. Ninguém deve ficar limitado, faz mal para a própria vocação?, adverte.  

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