No ano passado, elas vieram tocar apenas em Santa Bárbara d’Oeste e Indaiatuba, no interior de São Paulo, como parte da programação da Virada Cultural Paulista. E cancelaram um DJ set aqui na capital. Foi o que bastou para que os inúmeros fãs da banda Au Revoir Simone iniciassem um movimento do tipo “Bienvenue Simone”, com apoio de crowdfunding, para trazer o trio do Brooklyn, Nova York, para tocar aqui em São Paulo.

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Funcionou. Elas estão a caminho, depois de uma turnê por Jacarta (Indonésia) e pela Califórnia. Pela segunda vez no País, a banda cult toca no domingo (11), no Cine Joia, às 22 h, em jornada dupla que terá também o grupo Cibo Matto (às 23h30). Os ingressos custam R$ 140 (R$ 70 a meia-entrada). Tocarão antes no Rio e em Fortaleza.

Annie Hart, Erika Forster e Heather D’Angelo, as meninas do Au Revoir Simone, são três garotas norte-americanas que até alguns anos tocavam teclados no quarto de Erika como uma diversão de amigas. Mas outros amigos ouviram e descobriram que elas não só cantavam como fadas, como também faziam uma música que se enquadrava num rótulo definido como “dream pop” (ou pop dos sonhos).

Desde então, elas viraram a banda preferida do cineasta David Lynch e fizeram parcerias com ídolos como Johnny Marr e a banda francesa Air. Na Europa, pensam que elas são francesas, por causa do nome – sugere alguma homenagem neofeminista a Simone de Beauvoir. Mas é equivocado: são superamericanas e o nome veio em 2003, a partir de uma brincadeira do programa de TV do humorista Pee-Wee Herman.

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Quando vieram no ano passado, elas estavam ainda em processo de gravação do novo disco, Move in Spectrums, seu primeiro trabalho em quatro anos, produzido por Jorge Elbrecht (que trabalhou com Violens e Ariel Pink). Na ocasião, tocaram algumas canções do trabalho. “Mas agora, já estamos em turnê por quase um ano (após o lançamento do disco) e estamos muito mais seguras das novas canções, com mais experiência. Além disso, as pessoas agora sabem mais sobre o novo trabalho, pode haver uma conexão mais forte do que naqueles shows”, disse Erika Forster, falando ao Estado por telefone, na semana passada.

Move in Spectrums é um passo adiante no sentido de peso, densidade, do que os maiores sucessos da banda. Canções mais rock, como Crazy e More Than, que lembra Joy Division. “Oh, obrigada! Eu amo o Joy Division. Nós de fato trabalhamos no sentido de dar algum descanso ao drum beat e experimentar algum som mais pesado, mais dançável. Algo que se tornasse também agradável de tocar ao vivo, que apresentasse um som mais massudo, excitante”, afirmou Erika.

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“Desta vez, não há planos de fazer um DJ set, porque estaremos muito ocupadas. Mas talvez possa haver algo espontâneo, quem sabe?”, diz a cantora e tecladista.

O principal instrumento do trio é o teclado, e há uma tradição muito forte nisso no pop, especialmente nos anos 1980, gente como Giorgio Moroder e Depeche Mode. “E OMD (Orchestral Manoeuvres in the Dark)”, revelou, no ano passado, Annie Hart.

“Quando começamos a banda, tocávamos teclados apenas porque era o instrumento mais confortável para a gente. Era o instrumento que possuíamos e todas nós tínhamos estudado piano desde crianças. Então era naturalmente confortável. Acho que foi só a partir do nosso terceiro disco é que passamos a prestar mais atenção no que fazia a velha escola do teclado e dos sintetizadores, e naquela época o Kraftwerk era algo que eu gostava. Mas eu nunca ouvi realmente Depeche Mode, não como fonte de influência. Éramos mais ligadas em indie rock, coisas assim.”

Erika Forster lançou há dois anos um álbum solo, mas na época Annie não via isso como um sinal de desagregação da irmandade Au Revoir Simone. “Nós ficamos dois anos em descanso, fora da banda, mas Erika não consegue ficar quieta, ela é muito ativa. Teve necessidade de mostrar outras canções que não as que faz conosco.”

O som delas é flagrantemente romântico e climático, assim como a poesia das garotas. “Bem, sou, nova aqui, mas isso não quer dizer que eu tenha de responder a questões idiotas ou dar tiros no escuro. Sei que sou uma criança. Mantenho isso vivo. Isso torna as coisas mais difíceis. Eu me lembro de lembrar”, diz a letra de Another Likely Story (do celebrado disco Still Night, Still Light, de 2009).

Já tocaram em uma retrospectiva dos filmes de David Lynch, na Fondation Cartier, a convite do próprio cineasta. O pessoal da moda delira com elas. Fizeram música para um desfile da francesa Ivana Helsinki e Kate Spade. Suas músicas podem ser ouvidas em séries de TV como Grey’s Anatomy e Ugly Betty. E muita gente de bom gosto tem casado ao som de Take Me As I Am, hino das garotas.

“Mas, em geral, cinema e moda não têm a menor influência quando compomos. Na maioria das vezes, falo de coisas que me afetam emocionalmente, coisas que eu vivo no dia a dia. Talvez isso possa dar essa ilusão cinemática, porque tem um certo pique de cinema, mas são coisas da minha vida real”, diz Annie. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.