O dicionário já diz tudo: a palavra fã é uma abreviatura do inglês “fanatic”. Ou seja, fanático, aquele que tem admiração exaltada por alguém. Na maioria das vezes, os fãs se contentam em demonstrar essa admiração pedindo autógrafos e tirando fotos. No máximo, soltando uns gritinhos histéricos ou fazendo declarações apaixonadas. Outros, porém, preferem agir como aprendizes de terrorista. Tal e qual membros de grupos radicais, declaram um verdadeira guerra psicológica aos objetos de sua adoração. Alguns chegam a invadir a casa ou fazer ameaças de morte aos ídolos.
A atriz Suzana Vieira, a Lorena de Mulheres Apaixonadas, não quer mais saber de cartas de fãs. Também pudera. A última delas foi bastante desagradável. Dentro do envelope, a atriz encontrou um punhado de pó branco, que o remetente afirmava ser antraz. E não foi só. Uma carta anônima fazia ameaças não só a ela, mas a toda a sua família. “Eu nunca tinha tido um dissabor desses na vida. Nem acho que mereça um ódio assim. Só dou o melhor de mim há mais de 30 anos”, argumenta ela, ainda assustada.
Mas Suzana Viera não é a primeira a ser ameaçada. E nem será a última. Malu Mader já teve um admirador que cismava em aparecer nos mesmíssimos lugares que ela. Um dia, o sujeito resolveu dar as caras no sítio da atriz em Penedo, no Sul fluminense. O jeito, lamenta ela, foi apelar para a polícia. “Quando o fã passa dos limites, a situação fica meio baixo-astral. Foi aí que comecei a ver o que podia fazer para me proteger. Entrei na maior paranóia!”, garante a protagonista da próxima novela das oito da Globo, Celebridade, de Gilberto Braga.
Além dos fãs que perdem a noção do limite, há aqueles que perdem a noção do ridículo. A atriz Érika Evanttini, a Dulcinéia de Kubanacan, que o diga. Há pouco mais de um mês, ela recebeu a carta de um fã, que dizia ter a mãe doente. Com a maior cara-de-pau, ele mandou as contas de luz e do cartão de crédito a serem pagas. Dias depois, mandou também envelopes selados para que ela devolvesse os boletos quitados. “No início, até fiquei comovida com a história. Mas, depois, ele pediu que eu desse logo um retorno porque precisava dos canhotos”, relata, indignada.
Na verdade, os atores nunca sabem o que podem encontrar dentro da carta de um fã. Entre as muitas que recebe todos os dias na Rede TV!, a apresentadora do Bom Dia, Mulher, Amanda Françoso, destaca algumas que a deixaram com um aperto no coração. “As pessoas acham que temos muito dinheiro e vivemos num conto-de-fadas”, queixa-se ela, que já recebeu pedidos de computadores, cadeiras de roda e até de casa própria. Sérgio Marone também coleciona algumas histórias curiosas. A mais bizarra diz respeito à moça que implorava para que o ator lhe tirasse a virgindade. “Ela mandou até foto e telefone de contato”, acrescenta Marone, o Victor de Malhação.
Alguns tietes, porém, não se contentam em se comunicar com os ídolos através de cartas. Querem vê-los de perto. Para tanto, vale qualquer sacrifício. Até invadir o quarto de hotel do ídolo em questão. Ao voltar de um show em Londrina, Paraná, Angélica só queria tomar um bom banho quente e relaxar. Como de praxe, os seguranças checaram tudo: dentro do armário, atrás das cortinas, no banheiro… Assim que eles fecharam a porta, um fã saiu de baixo da cama. “Dei um berro e os seguranças voltaram na mesma hora. Passado o susto, morri de rir”, lembra ela.
Se um fã incomoda muita gente, uma multidão deles incomoda muito mais. Há alguns anos, Thierry Figueira, o João de Deus de Canavial das Paixões, a próxima novela do SBT, foi contratado para promover a inauguração de uma boate em Manaus. O que nem ele nem ninguém imaginava era o número de fãs ensandecidas que se formaria na porta do lugar. “Os seguranças não deram conta de tanta mulher e tive de fugir pela porta dos fundos…”, recorda Thierry, com os olhos ainda esbugalhados pelo susto.
Perseguições, flores e fotos
A apresentadora Eliana, hoje na Record, guarda na lembrança um fã que assinava apenas como “K”. Todo o santo dia, por seis anos ininterruptos, ele mandou flores para o camarim de Eliana, então apresentadora do Bom Dia & Cia, do SBT. “Quando eu chegava para trabalhar, já encontrava o camarim todo florido. E ele me mandava também uns bilhetes bem bacanas”, entrega ela, que deixou de receber flores do misterioso “K” quando trocou o SBT pela Record.
Renato Aragão teve mais sorte. Lá pelos anos 70, o humorista excursionava com Os Trapalhões por diversas cidades do País. Ao término de um show em São Paulo, ele posou para fotos, segurando uma garotinha no colo. No início dos anos 90, Renato mal acreditou ao reencontrar aquela mesma garotinha, já moça feita, trabalhando na AABB, Associação Atlética Banco do Brasil, de São Paulo. “Lílian tomou coragem, veio falar comigo e trouxe a tal foto. Estamos juntos até hoje”, emociona-se o trapalhão.
Fuga
O ator Tarcísio Meira também já viveu seus dias de histeria coletiva. No início de carreira, ele foi convidado a participar de uma campanha beneficente no Recife. A multidão, porém, era tanta que obrigou o ator a sair correndo. “Entrei num prédio, pedindo socorro. Entrei na casa do primeiro que me abriu a porta”, diverte-se ele.
