O teatro precisa rir de si mesmo. Melhor ainda se for uma atriz que encarna um bordel inteiro chamado ‘O Colégio”. Yara de Novaes, em cartaz com Justa, texto de Newton Moreno, celebra os 20 anos da Odeon Companhia Teatral, com Rodolfo Vaz.
Se a direção de Carlos Gradim encara o desafio de entregar uma história mergulhada na mente do investigador, clareiras se abrem com o desempenho da atriz que vive Justa, a prostituta cega mais desejada pela classe política do prostíbulo. “Estávamos pesquisando as memórias da prostituta Gabriela Leite, um ícone de mulher que defendeu o ofício.” A prostituta morta em 2013 foi, entre outras coisas, fundadora da ONG Davida, de apoio às profissionais, e idealizadora da grife Daspu. “A gente queria captar essa energia agregadora, que questiona o modo como a prostituição ainda é vista, reconhecendo sua função reguladora na sociedade.”
Na peça, esse elemento virou caminho para a investigação de uma série de assassinatos, com direito a descrições mórbidas. A prostituta cega é uma das suspeitas, como as colegas, todas encarnadas por Yara, sem que a atriz tenha apoio de recursos cênicos que criem emendas na interpretação.
Diferentemente dos políticos, Yara faz tudo às claras: no instante em que vive a prostituta manca, vai em segundos para Nordestina, a dona do bordel, e rapidamente para “a pedagoga” – que ensina jovens virgens a satisfazer seus futuros maridos. “Tenho que ter um temperamento corporal e é difícil. Em cena sou quase uma brincante, que abre portas. Gosto de interpretar personagens que vão na contramão do que esperam de uma atriz como eu.”
Em cartaz até o dia 22, a peça é coroada na última cena com um pequeno monólogo sobre o abismo moral que separa o Brasil. “Sinto que estou falando o que todo mundo diz, na plateia e por aí.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.