Cidadão honorário de Curitiba (você nem imaginava, né?), o cantor, compositor e instrumentista Raimundo Fagner esteve na capital no último sábado (17) para uma apresentação no Teatro do Sesi. Mais do que o próprio talento, o músico cearense trouxe para a apresentação uma banda afinadíssima, sua voz característica e toda uma bagagem musical/cultural de quem completa 70 anos em outubro e tem quase 50 de serviços prestados à Música Popular Brasileira.
E é essa música, esse cenário musical, que norteou o papo que o Fagner teve com a Tribuna. Apesar de admitir que é muito difícil comparar gerações de ouvintes (consumidores de música), o cantor acredita que houve uma inversão na “pirâmide de qualidade” de toda a produção musical no país. “Não gosto de comparar épocas, gerações. São sentimentos diferentes, mas é o público que diz que a música atual não tem qualidade”.
Para Fagner, existem artistas que se destacam no meio de muita coisa descartável, mas essa não é a regra. “Não é comparável. Muitos deles não primam pela qualidade, e nem se faz necessário. Eu acredito que a nossa música foi feita para pensar, a deles para esquecer. São músicas descartáveis, todo dia um ‘sucesso’. É um saldão de ‘sucessos’. A validade é muito curta”, lamentou.
E disparou: “Antes a gente (a geração de músicos das décadas de 70 e 80) era o ‘grosso’ da MPB, hoje é só o ‘fino’”. Segundo o músico, pelo menos dois fatores são culpados pelo declínio da qualidade musical no Brasil: o primeiro é um estilo e o segundo uma mentalidade. “Isso vem desde a explosão do Axé nos anos 90. São músicas para dançar, se expor, pra namorar, trepar. De 20 anos para cá a música perdeu qualidade. Agora temos que adaptar para ser mais compreensível para essa geração”, disse Fagner.
O outro culpado, segundo o músico, são as gravadoras. “Elas não querem se qualificar. O mercado mudou e elas querem entrar na onda do imediatismo. Elas deveriam ter mais respeito pelos artistas que fizeram a história das próprias gravadoras. Eles deveriam fazer uma avaliação, deixar 70% do espaço pro saldão, pro atacadão, e trabalhar o restante com gente de qualidade. Tá na hora dessa ficha cair”, cutucou.
Novo disco
Estava prometido para 2019 a gravação de um novo trabalho, mas o convite para um show na Arena Castelão para comemorar seus 70 anos atrasou um pouco o desenvolvimento. Aliás, este show terá a participação do Padre Zezinho e será para arrecadar fundos para a construção de uma Igreja para São Francisco. “Será muito bonito”, disse.
Sobre o novo CD, Fagner disse que está com a obra praticamente pronta, com parcerias com Renato Teixeira, Zeca Baleiro e Moacyr Luz. “São parcerias maduras, coisas bacanas. Eles estão super empolgados. Vamos cair pra dentro ainda este ano”.
Laços curitibanos
Fagner sempre teve a admiração do público curitibano, mas os laços ficaram mais fortes em 1998, quando a convite do ministro dos Esportes, Pelé, ele veio até a capital para se tornar padrinho do Malutrom, o primeiro clube-empresa do Brasil. Além disso, Fagner – que adora jogar futebol – tem vários amigos na “bola” e sempre joga seu futebol quando passa pela cidade.
Por fim, lembrando a parceria com o J.Malucelli, disparou. “E pode pôr aí no jornal que sou o padrinho do time e nunca recebi pelas 10 mil ações que eu tinha aí”, disse gargalhando. “É sempre uma alegria voltar a Curitiba. Um povo que não tem nada de frio, como dizem. É sempre uma emoção”.