O pianista Fábio Martino estava com 14 anos e se preparava para deixar o Brasil. Com uma bolsa, partia para Karlsruhe, na Alemanha. Era uma chance que precisava “ser levada muito a sério”. E, talvez, por isso, quando perguntado sobre seus planos pela reportagem, tinha apenas dois: muita dedicação e estudo. E atenção a um repertório que permitisse a vivência de vários autores e estilos, apesar de que ele já sabia: mesmo que até então tocasse as peças que seu professor escolhia, tinha uma identificação com “obras mais nervosas, irritadas, agressivas”.
Martino cresceu. Nos últimos dez anos, conquistou prêmios, fez concertos em todo o mundo, comprou seu primeiro piano Steinway e tornou-se um dos principais nomes da nova geração de instrumentistas brasileiros. A marca registrada, a gravata borboleta usada desde a infância, na verdade é a mesma. Mas o pianista agora faz suas próprias escolhas. E é com um repertório audacioso que ele se apresenta a partir desta semana na Sala São Paulo. De quinta-feira, 18, a sábado, será o solista da Osesp no “Concerto para Piano e Orquestra n.º 5” de Villa-Lobos, regido por Celso Antunes; e, nos dias, 25 e 27, faz dois recitais solo dedicados a obras de Schumann e Prokofiev.
“Estou particularmente contente por poder tocar o concerto de Villa-Lobos, ainda mais dentro do contexto de comemoração dos 60 anos da orquestra”, diz Martino durante entrevista na Sala São Paulo. “Villa-Lobos é um compositor brasileiro, mas de linguagem universal. E este concerto é bastante claro no que diz respeito à forma, estabelecendo ambientes específicos em cada um dos quatro movimentos. E a interação entre orquestra e piano é muito grande.”
Este será seu primeiro contato com a peça, mas de certa forma não é um universo desconhecido para o pianista. Não apenas porque outras obras do autor fazem parte de seu repertório, mas também pelo fato de que compositores modernos da primeira década do século 20 são presença constante em seus concertos. É o caso de Prokofiev, Shostakovich, Rachmaninov, Bartók e Medtner, por exemplo.
Martino concorda, mas rechaça a ideia de especialização. “Pode ser que, por uma coincidência, alguns autores tenham se unido em minha trajetória. Mas não acredito que exista um período que me atraia especificamente como pianista. Na verdade, quando entro em contato com um autor, faço uma imersão em seu mundo, tentando entender o que ele busca dizer e como faz isso. Pensando assim, qualquer compositor é capaz de me fascinar. Essa é a essência do fazer musical e, para mim, uma experiência muito fascinante. É o que me move.”
Na trajetória de Martino, o que lhe parece mais interessante, assim, é a dedicação a diversos mundos. É nesse contexto que ele fala, por exemplo, do prazer de interpretar um concerto como o “Imperador” de Beethoven, ou o da “Coroação”, de Mozart, para o qual escreveu sua própria cadência. Ou então da relação com a música brasileira. Ele lembra que, no Concurso Internacional de Piano do BNDES, recebeu, além do primeiro prêmio, uma distinção pela interpretação de autores nacionais. Antes da viagem a São Paulo, passou por Belo Horizonte, onde tocou Shostakovich e a “Fantasia nº 4” de Francisco Mignone com a Filarmônica de Minas Gerais, trabalhando com os manuscritos do compositor; e atualmente prepara uma sonata de Marlos Nobre. “Este é um repertório que sempre me acompanha, aqui ou lá fora.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.