Ele já passou dos vinte e poucos anos faz muito tempo, mas continua arrebatando platéias como na década de 80. Na turnê que comemora seus 35 anos de carreira, Fábio Jr. mostra que o carisma que tem com o público, principalmente o feminino, é uma característica nata e que está longe de ser perdida.
No show que fez em Curitiba, na semana passada, o cantor quase lotou o Curitiba Master Hall, casa de espetáculo com capacidade para 3,4 mil pessoas. Na platéia, muitas, mas muitas mulheres, com faixa etária entre 20 e 70 anos que, de olhos fechados – ou bem abertos – o acompanhavam nas letras das músicas e tiravam fotos, munidas de máquinas e celulares. Homens também faziam parte do coro, mas eles eram em menor número, quase sempre acompanhando esposas e namoradas.
Todo vestido de branco, Fábio Jr. deu início ao show intitulado Mais de 20 e poucos anos com a música-tema, levando o público a retroceder no tempo, com canções como Seu melhor amigo (1981), O que é que há (1982), Senta aqui (1984), Enrosca, Quando gira o mundo (1985) e Sem limites pra sonhar (1987). Relembrou também sucessos dos anos 90s, como Esqueça, Rio e canoa e Alma gêmea (1994) e outras mais recentes como Minha outra metade, intercalando com títulos que ficaram famosos em outras vozes, como Se (Djavan) e Sangrando (Gonzaguinha).
Emoção
A música Pai rendeu um dos momentos mais emocionantes. Foi quando as luzes formaram uma estrela azul em cima do cantor, destacando ainda mais o palco preto e branco. O coro calou e as mãos baixaram, como um gesto de respeito ao cantor, que já declarou ficar sempre emocionado por lembrar o pai, falecido há exatos 25 anos.
Seu quarteto de backing vocal deu um breve show à parte para que Fábio Jr. fizesse uma pausa na metade da apresentação. Num coro forte e superafinado, os cantores soltaram a voz em uma música em inglês e foram muitos aplaudidos. Na volta ao palco, um detalhe que ?desafinou? com o cenário e clima românticos: Fábio Jr. acendeu um cigarro e cantou Se eu não te amasse tanto assim, famosa na voz de Ivete Sangalo, entre uma tragada e outra.
Alberto Melnechuky e Danille de Sisti |
Na platéia, muitas, mas muitas mulheres, com faixa etária entre 20 e 70 anos. |
Ao final, ainda sob os últimos acordes de Caça e caçador (1988), Fábio fechou a apresentação no melhor estilo romântico e, a la Roberto Carlos, distribuindo rosas brancas e beijadas para o público. Depois, o tradicional ?brigaduuu…? arrancou mais suspiros. Se houve alguma frustração foi a ausência de bis.
Box compila 35 anos de estrada
O box Mais de 20 e poucos anos, composto por cinco CDS e um DVD, está sendo lançado pela gravadora Sony & BMG como parte das comemorações de 35 anos de carreira de Fábio Jr. O primeiro CD traz os sucessos dos anos 80s, incluindo composições próprias como Pai, a mais importante de sua carreira; 20 e poucos anos, que dá nome também à turnê, e Quero colo. Há ainda músicas de autoria de Guilherme Lamounier (Seu melhor amigo) e Roberto Carlos (Como é grande o meu amor por você). A divertida Enrosca e as românticas O que é que há e Senta aqui também fazem parte deste primeiro CD que traz 14 músicas.
O segundo CD abre com dois sucessos do álbum Fábio Jr., de 1985: Ilumina e Quando gira o mundo. Traz ainda Sem limites para sonhar, que o cantor gravou em dueto com a cantora pop norte-americana Bonnie Tyler. São treze músicas gravadas até 1993. O terceiro CD traz músicas mais recentes, do bem-sucedido Desejos, gravado e lançado em 1993, e também dos álbuns Fábio Jr. e Alma e coração, e dos CDs Compromisso e Contador de estrelas.
Já o quarto e o quinto CDs podem ser considerados raridades. Um deles reúne 16 fonogramas que Fábio Jr. gravou especialmente para o mercado latino Espanha e América Latina, entre 1984 e 1987. E o outro mostra os trabalhos do cantor antes de despontar para o sucesso. Ele abre com uma faixa do primeiro disco compacto, gravado em 1970, pelo grupo Os Namorados, do qual Fábio Jr. fazia parte na adolescência com seus dois irmãos. Algumas músicas deste CD relembram ainda a época do posterior Grupo Arco-Íris e da fase de ?cantor estrangeiro? em que Fábio Jr. está à frente da banda Uncle Jack (1973) e quando era Mark Davis (1974/1975).
O único DVD que compõe o box mostra o projeto Fábio Jr. ao vivo, gravado em 2003, no Olímpia, em São Paulo, para comemorar os 50 anos do cantor.
Serviço: o box comemorativo Mais de vinte e poucos anos já está mercado e custa, em média, R$ 125, dependendo da loja. (DS)
Cantar é a grande paixão
Nem todo fã que acompanha Fábio Jr. ao longo de sua trajetória sabe o quanto ele teve que batalhar antes de se firmar como um cantor de sucesso. Filho de uma professora de piano e um taxista que tinha uma banca de jornais, o menino Fábio Galvão já mostrava interesse pela vida artística. Estimulado pelo violão presenteado pelo pai, Fábio formou um trio vocal com seus irmãos – Os Colegiais, pouco depois rebatizado de Os Namorados, com o qual participou de programas de tevê entre 1967 e 1968.
Naquela época, um diretor de tevê taxou-o como um mal cantor, mas disse que teria chance na dramaturgia. Foi aí que ingressou como ator, inicialmente, em um tele-teatro. Mas a paixão pela música permaneceu e, ainda estimulado pelos pais, o grupo Os Namorados foi a rádios e shows e teve a chance de gravar o primeiro compacto para a Polydor. Nem este nem o outro que viria a seguir despontaram e o grupo terminou ainda no início dos anos 70s. Anos mais tarde, eles ressurgiriam com o nome Grupo Arco-Íris, gravando um único compacto antes de seu fim definitivo, em 1973. Ainda naquele ano, Fábio Jr. passou a integrar a banda Uncle Jack, onde ficou por um ano acompanhando o cantor Pete Dunaway. Em 1974, lançou um álbum com o nome de Mark Davis, cantando músicas em inglês.
Com o nome artístico Fábio Jr. gravou o primeiro disco só em 1976, que tinha músicas com letras de Paulo Coelho e uma releitura de A noite do meu bem, de Dolores Duran. Porém, foi só com a música Pai, que se tornou tema da novela Pai herói, em 1979, é que Fábio Jr. deu início a uma carreira de sucesso, ao ser contratado pela Som Livre.
A partir daí, participou de longas-metragens, novelas e shows por todo o País, firmando sua condição de cantor, compositor e ator, um feito ainda pouco comum no meio artístico até hoje. Fábio Jr. não faz novelas desde 1998 e, no momento, nem faz parte de seus planos.
Apoio ao filho
Pela batalha que teve que vencer para se transformar em um artista reconhecido, Fábio Jr. considera que é preciso dar valor a tudo que se conquista. Atualmente, ele orienta Filipe, seu único filho homem de uma prole formada por mais 3 meninas. O adolescente de 15 anos tenta a carreira de cantor em uma banda de rock. ?Digo a ele que tem que dar valor e correr atrás, eu levei 12 anos para acontecer, tem que batalhar muito?, disse em entrevista aos jornalistas, antes do show em Curitiba.
Depois dos obstáculos que venceu para chegar ao sucesso, Fábio Jr., assim como outros artistas que vivem da música no Brasil, tem ainda que lidar com um outro problema: a pirataria de CDs e DVDs. ?Acho que o CD é muito caro, mas acho a pirataria uma sacanagem?, desabafou na entrevista a O Estado. O cantor disse estar estudando uma maneira de amenizar o problema. Uma das soluções que considera interessante é a idéia do cantor Ralph (dupla Cristian & Ralph) em gravar CDs com menor número de músicas, o que iria baratear o custo final para o consumidor.
Obstáculos à parte, o romantismo ainda é o mote da carreira do artista. É como um cantor romântico que ele se firmou, cresceu, fez fama e pretende continuar sendo conhecido. ?O romantismo não mudou nada; só o xaveco é que mudou um pouquinho. Quando se está realmente apaixonado, amando, é tudo igual, desde que mundo é mundo?, disse, bem-humorado. (DS)