Sem exageros, Fabiana Cozza quase perdeu seu patrimônio este ano. Em determinado mês, tinha de escolher entre pagar suas prestações ou bancar a mixagem de seu disco. No outro, ou quitava parcelas de seu carro ou acertava as contas com seu diretor e produtor musical Paulão 7 Cordas. Percorrido todo o caminho das pedras – trajeto comum para artistas independentes -, ela acaba de lançar “Fabiana Cozza”, terceiro álbum de sua carreira. O disco, bancado inteiramente do bolso da cantora, tem estreia prevista em shows de 25 a 27 deste mês, no Sesc Vila Mariana, e no dia 7 de dezembro, no Solar de Botafogo, no Rio.
Com 15 anos de carreira, depois dos elogiados “O Samba É Meu Dom” e “Quando O Céu Clarear”, Fabiana chegou a ter o projeto de seu novo disco aprovado na Lei Rouanet, mas não conseguiu captar patrocínios. “É complicado, não só para mim. Estamos órfãos. Costumo dizer que nós, artistas, voltamos ao navio negreiro nesta questão. Mas as coisas não podem deixar de acontecer, bora tocar pra frente”, comenta a cantora sobre a falta de incentivos e de ter de financiar o álbum com recursos próprios.
Seu novo trabalho foi concebido ao longo de 2010 e gravado entre março e maio deste ano. Com o disco finalizado, houve uma reunião com Paulão 7 Cordas, Marcelino Freire (que assina a produção artística) e outros envolvidos para decidir como seria nomeado o novo rebento musical da artista. Após diversas conjecturas e sugestões, pela primeira vez em sua carreira, ela decidiu que era a hora de batizar o disco de “Fabiana Cozza”. “O Marcelino sempre me ajudou a amarrar os conceitos. Este é o primeiro disco que assino com meu nome. Eu me senti mais madura pra assinar Fabiana Cozza, eu me sinto mais intérprete. Sou eu aqui (neste trabalho), com os compositores que eu quero, com as canções nas quais eu acredito. Não se trata de nenhuma pretensão para além do tamanho das minhas pernas. Eu quero me melhorar como intérprete, entender melhor a leitura do poema”, explica Fabiana.
Em relação aos temas, obviamente o samba tradicional não fica de fora. Compositores pelos quais ela tem extrema afeição aparecem novamente em um CD dela. Caso, por exemplo, de Nei Lopes (no clássico “Sandália Amarela”, parceria com Wilson Moreira, e na dolente e rasgada ode à dor de cotovelo “Lupiciniana”, com Wilson das Neves). Reaparecem também Roque Ferreira (em “Candeeiro de Deus”), Sombrinha (em “Sabe Deus”, com Marquinho PQD e Carlinhos Vergueiro, em “Festa do Zé”, apenas com Carlinhos, e na melodiosa “Eternamente Sempre”, só com PQD) e Paulo César Pinheiro, que escreve texto assertivo e emotivo no encarte do disco (em “Serenata de São Lázaro”, com arranjo sofisticado e intimista do parceiro e pianista Gilson Peranzzetta).
Quem também não podia ficar de fora da festa é Oswaldo dos Santos, pai de Fabiana, que volta a um disco da filha, novamente com um samba da Camisa Verde e Branco, desta vez com o enredo de 1977 da escola, o lindo “Narainã” (Alvorada dos Pássaros).
Entre as regravações presentes no álbum, além de “Sandália Amarela”, estão “Lá Fora” (assinada por ninguém menos que Elton Medeiros e Délcio Carvalho) e “São Jorge”, de Kiko Dinucci, registrada no disco “Padê”, dele com Juçara Marçal. Da safra de compositores mais jovens, arrojados e contemporâneos de Fabiana (que completa 36 anos em janeiro), Kiko também assina “Santa Bamba”, ao lado de Fabiano Ramos Torres. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fabiana Cozza – Sesc Vila Mariana (Rua Pelotas, 141). Telefone (011) 5080-3000. Dias 25 e 26, às 21 h; dia 27, às 18 h. De R$ 8 a R$ 32.