Um dos ícones da pop art dos anos 80, cuja obra influenciou não apenas as artes plásticas, mas a música pop e a moda, o norte-americano Keith Haring ganha uma exposição na capital paulista a partir deste sábado, na Caixa Cultural São Paulo. A exibição marca os 20 anos da morte do artista, famoso pelos bonequinhos sem rosto desenhados pelo metrô de Nova York. “Mas o trabalho dele foi muito além disso”, comenta Sharon Battat, curadora da mostra “Keith Haring – Selected Works”, que apresenta 94 peças produzidas por ele, entre serigrafias, gravuras, litografias e xilografia. No final de setembro, a exibição parte para o Rio de Janeiro, assim como também poderá ir para outros Estados posteriormente.

continua após a publicidade

Para a exposição, a curadora, também norte-americana e produtora da Litmedia Productions, privilegiou a seleção de trabalhos nunca antes visto no Brasil, além de trazer objetos pessoais do artista que mostram a estreita relação de Haring com nosso País, já que ele viajou diversas vezes para cá. Em 1983, por exemplo, ele participou da Bienal de São Paulo, quando grafitou por muros e paredes da cidade. Esteve também na Bahia, onde o amigo dele, também artista plástico, Kenny Schaf, tem uma casa, em Ilhéus. Em Salvador, ele fez dois painéis, sendo que um deles atualmente precisa de restauro.

Entre os objetos reunidos estão o passaporte do artista, com os carimbos que indicam a entrada dele no País, fotos e cartas. “Mostram a ligação e o amor que ele tinha pelo Brasil”, diz Sharon. O documentário “Drawing the line”, dirigido por Elisabeth Aubert, também faz parte da programação da mostra. No Rio, será incluída uma obra dele doada ao Museu de Arte Moderna (MAM) de lá.

Cena underground

continua após a publicidade

Haring e Schaf, juntamente com Jean-Michel Basquiat, foram artistas que deram uma reviravolta no conceito de arte na Nova York dos anos 80. “Eles destruíram a fronteira da arte de rua e da arte de galeria”, diz Sharon. Nascido em Reading, na Pensilvânia, em 1958, Haring mudou-se para Nova York aos 20 anos para estudar na School of Visual Arts (SVA), onde conheceu esses outros dois expoentes da cena underground da cidade. Influenciado pelo grafite, o artista começou a ganhar notoriedade com os seus desenhos feitos a giz no metrô. Sua primeira exposição individual foi em 1982.

A curadora da “Selected Works” lembra que o primeiro contato dela com a obra de Haring foi “instintivo”. Aos oito anos, ela participou de um leilão e ficou interessada em um quadro feito por ele, até então sem saber quem era o artista e sua relevância artística. Pediu autorização aos pais e fez o seu lance: 50 dólares. Obviamente a quantia não era suficiente para arrematar a peça, provocando o riso . Mas isso acabou despertando o interesse pelo trabalho dele, que mais tarde, acabou influenciando suas escolhas profissionais.

continua após a publicidade

Ao longo de sua carreira, Haring elaborou murais públicos em apoio aos direitos civis e também a creches, hospitais e orfanatos. Em 1989, fundou a Keith Haring Foundation, com o objetivo de amparar entidades de assistência à infância e projetos de pesquisa sobre o HIV e de prevenção à aids, algum tempo depois de ter sido diagnosticado como portador do vírus. Ele morreu em fevereiro do ano seguinte em decorrência da doença. Para fazer jus ao espírito filantropo do artista, durante a exposição serão realizadas ações sociais. Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, serão distribuídas 30 mil camisinhas. Os visitantes da mostra receberão – dentro do limite de 30 mil unidades para cobrir todos os locais de exposição – um exemplar do “Livro da Vida”, com depoimentos sobre a aids de pessoas de todo o mundo.

Crianças

Além do engajamento na luta contra a aids, Haring também se dedicou a trabalhos voltados ao público infantil. Assim, na abertura da exposição, à maneira que ele fazia em suas obras em áreas públicas, uma oficina de pintura e desenho será desenvolvida com crianças, a partir das 13 horas. Os responsáveis serão os artistas da Galeria Choque Cultural Haroldo Paranhos, que integra o Coletivo SHN, e João Lelo. Segundo Sharon, são artistas que têm a mesma raiz do trabalho de Haring, ou seja, a arte de rua. Mais informações estão no site www.keithharing.com.br.

Serviço

“Keith Haring – Selected Works”

Local: Caixa Cultural São Paulo – Conjunto Nacional.

Endereço: Avenida Paulista, 2.083, Cerqueira César, São Paulo.

Período: de 31 de julho a 5 de setembro.

Visitação: de terça-feira a sábado, das 9h às 21h, e domingos e feriados, das 10h às 21h.

Informações, agendamento de visitas mediadas e translado (ônibus) para escolas públicas: (11) 3321-4400.

Censura: Livre.

Preço: Grátis.