“Relicário”, exposição de Vik Muniz em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, traz uma faceta pouco conhecida do artista que se tornou nos últimos tempos um verdadeiro ícone pop. O que vemos nessa mostra é um Vik Muniz escultor praticamente inédito, mesmo que o termo escultura não pareça definir muito bem a ampla gama de objetos criados por ele como numa espécie de desafio lúdico e irônico.

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É como se cada uma das 30 obras exibidas fossem pequenos chistes, comentários ferinos ou anedóticos, emitidos com o intuito de provocar o espectador, fisgando-o por meio das mais diferentes artimanhas, que incluem, inexoravelmente, a sedução material, o choque semântico entre elementos muito distintos e a surpreendente maestria técnica que caracteriza a obra de Vik.

Muito já se falou sobre a utilização de referências típicas da arte pop pelo artista, que também já dialogou com outras grandes escolas da história da arte, como o impressionismo e o minimalismo. Nas obras reunidas em “Relicário”, no entanto, há um evidente flerte com procedimentos típicos do surrealismo e dadaísmo. O contraste entre elementos, o deslocamento de significados e a utilização do texto (o título) como elemento constitutivo da obra estão presentes em vários trabalhos, como em “O Batismo do Monstro”, uma delicadíssima e romântica camisola com metros de comprimento cuidadosamente dobrados sobre si e seis mangas em vez de duas.

A ironia descompromissada que marca trabalhos como a caixa de papelão à prova de balas, o sarcófago da múmia na forma de um gigantesco tupperware ou História da Iconografia Acidental – imagens de torradas que reproduzem a fisionomia de ícones como Che Guevara e Jesus Cristo – cede lugar em alguns momentos a comentários mais ácidos sobre a sociedade de consumo – tema caro ao artista e que está retratado no documentário “Lixo Extraordinário”, que foi indicado para o Oscar da categoria deste ano. A instalação feita com restos de bonecas descartadas, desmembradas e inseridas num grande armário de laboratório é de uma morbidez incômoda e mais crítica do que a média dos trabalhos reunidos na mostra.

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Já em “Entomologia Gráfica” ele cria um maravilhoso e diversificado painel com centenas de borboletas aprisionadas. O olhar do observador, atraído pelas cores e formas dispostas ali, leva algum tempo para perceber que não são insetos de verdade, mas reproduções de um grande ilusionismo cenográfico. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Relicário – Vik Muniz. Instituto Tomie Ohtake (Avenida Faria Lima, 201). Tel. (011) 2245-1900. Terça a domingo, 11h/20h (fecha segunda). Grátis. Até 24/04.

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