Na semana em que morreu o mestre dos quadrinhos Stan Lee, o Museu da Imagem e do Som (MIS) inaugura uma grande exposição sobre a arte que ele ajudou a formatar. Em cartaz até o fim de março, a mostra não prioriza um ou outro período, estilo ou país. Sem se aprofundar muito, oferece breves pinceladas em toda a história da “arte sequencial”, desde as pinturas rupestres até as cibertirinhas da internet. Com essa amplitude temática, a curadoria de Ivan Freitas da Costa se mantém em um nível superficial, mas consegue o mais difícil: criar um fio condutor coerente para apresentar os mais variados tipos de Hqs.

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“O recorte da exposição prioriza o ponto de vista brasileiro, então a gente se detém nas produções e nos personagens que chegaram ao Brasil e tiveram impacto maior aqui”, explica o curador. Com mais de 600 itens expostos, de mangás japoneses a graphic novels europeias, de revistas ilustradas pioneiras do Brasil colônia ao jornalismo em quadrinhos, de charges políticas a super-heróis, Ivan acredita que a mostra ajuda o público a descobrir novas vertentes com as quais não teria contato de outra forma. “Fazer uma exposição tão ampla ajuda no aspecto de atrair um público muito diverso. As pessoas vão procurando um conteúdo e acham outros, o que forma um repertório.”

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O quadrinista, designer e colecionador Ricardo Leite, que cedeu de seu acervo a maior parte das obras expostas, também crê na possibilidade de um intercâmbio de ideias entre os fãs de diferentes estilos. “Acho que os públicos vão se descobrir. É uma oportunidade para que as pessoas vejam outros gêneros, porque elas tendem a ficar muito agrupadas em nichos.”

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Os visitantes terão contato com artes originais e, para Leite, essa interação direta com o produto cru é importantíssima. “Você vê a cozinha da arte, o que se passou pela cabeça do quadrinista. Aparece o raciocínio, o que o artista mudou de ideia, como ele desenhou, como retocou. Tem coisas anotadas pelas bordas do papel, às vezes instruções que o artista quer passar. Revela um pouco do rascunho, dos bastidores, do processo criativo.”

O quadrinho brasileiro sempre foi muito político, e essa faceta está bem representada. “A charge política aparece na exposição não como uma forma de militância mas como registro histórico”, explica o curador.

Com exceção do patrono das HQs no Brasil, Angelo Agostini (1843-1910), de Ziraldo e Maurício de Souza, que têm espaços exclusivos, a mostra é dividida em salas temáticas: mangás, tirinhas, HQs europeias, brasileiras, latinas e americanas. O destaque expográfico vai para a sala de quadrinhos eróticos montada no banheiro do museu.

A primeira grande exposição de HQs no mundo foi organizada em 1951, por Álvaro de Moya (1930-2017), em São Paulo. Agora, o MIS promete ampliar o escopo para abarcar todas as culturas do planeta dentro do espaço de um único quadrinho.

QUADRINHOS

Museu da Imagem e do Som. Av. Europa, 158, Jardim Europa, 2117-4777. 3ª a sáb., 10h/20h; dom., 9h/18h. Até 31/3. R$ 14.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.