Exposição itinerante do belga Jan Fabre chega a SP

Diversidade de meios e síntese poética: esses parecem ser os dois principais critérios para a escolha das 19 obras do artista belga Jan Fabre que compõem sua exposição itinerante pela América do Sul, iniciada há dois anos no Chile e que chega ao Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. A mostra passeia pelos grandes temas, materiais de predileção e associações recorrentes na produção do artista, propondo uma espécie de resumo amplo de sua trajetória. Com mais de 30 anos de carreira, Fabre é um dos grandes nomes da arte contemporânea europeia – e não apenas no restrito campo das artes visuais, mas também com uma sólida e polêmica trajetória na cena teatral -, mas só expôs antes no Brasil em 1991, participando da 21.ª Bienal de São Paulo.

Talvez a expressão mais utilizada para definir a obra de Fabre seja “metamorfose”. Não necessariamente por seu fascínio com o mundo dos insetos (as carapaças dos escaravelhos, com sua rigidez protetora e seus sedutores tons de azul e verde, estão entre suas matérias-primas prediletas), mas em função de uma certa ambiguidade em sua obra, uma transitoriedade permanente entre campos opostos, como beleza e repulsa, interioridade e exterioridade. “A imagem transcendente do mundo de Fabre incorpora diferentes temporalidades, que se encontram em um tempo presente: ao mesmo tempo que dão conta da impossibilidade de localizar essas temporalidades em um único ponto, também falam da impossibilidade de fechar em compartimentos excludentes conceitos como sujeito e mundo, interior e exterior”, explica a curadora da mostra, Beatriz Bustos.

Uma das obras mais antigas da exposição, a escultura Me Dreaming, de 1978, retrata o próprio artista sentado à mesa, diante de um microscópio, como que concentrado em algum desafio, ou sonho, como sugere o título. Recobertos de tachinhas douradas, a figura do homem e todos os objetos presentes criam um misto de atração e repulsa; uma carapaça protetora e ameaçadora. Um outro detalhe da peça chama atenção: os pedaços de presunto cru amarrados nas pernas do homem, da cadeira, da mesa. É como se o artista repetisse, mais uma vez, a inversão entre o interior e exterior, deixando à mostra – por trás da carapaça – o interior de carne sanguinolenta. Não deixa de ser uma maneira de explicitar que o sentido da vida se expressa não apenas no ser humano mas naquilo que o cerca.

Outra obra de grande impacto, que participou da antológica exposição do artista há dois anos no Louvre, é Umbraculum, a Place in the Shadow to Think and Work (Um Lugar na Sombra para Pensar e Trabalhar), de 2001. A escultura, que dá título à mostra, recria com fatias de ossos humanos um traje que parece de um monge – ou monja -, inserindo-o num contexto bizarro de aparelhos para deficientes, lâminas de serra, etc… Além da evidente referência a símbolos entrecruzados de poder e religião – o termo umbraculum, que dá título à mostra, designa tanto uma espécie de guarda-sol, usado como atributo papal, como um molusco marinho -, a instalação brinca com um tipo de inversão bastante presente na produção de Fabre: ressituar o esqueleto humano não mais como estrutura mais íntima, mas como carapaça. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Umbraculum – Jan Fabre. Instituto Tomie Ohtake (Av. Faria Lima, 201). Tel. (011) 2245-1900. 11h/20h (fecha segunda). Grátis. Até 10/10. Abertura hoje, às 20h.

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