A exposição Invento, que será inaugurada nesta terça-feira, 4, para convidados e na quarta-feira, 5, para o público na Oca, no Parque do Ibirapuera, ficará 523 horas em cartaz até o seu término, em outubro. A contagem pode parecer estranha, mas não é aleatória – o número exato inspirou o francês Christian Boltanski, grande referência da arte contemporânea, a criar a inédita obra Crepúsculo, formada por 523 lâmpadas incandescentes que, ligadas sobre o chão, vão se apagar, uma a uma, ao final de cada hora em que a mostra estiver aberta à visitação.
“Quando você precisa ‘iconizar’ uma ideia, você desenha uma lâmpada, mas as lâmpadas incandescentes estão morrendo, desde 1.º de julho passaram a ser proibidas de serem vendidas”, diz Marcello Dantas, que assina com Agnaldo Farias a curadoria da mostra Invento – As Revoluções que Nos Inventaram. “Boltanski é um artista que falou sempre da morte e ele adorou a proposta de fazer um jardim que vai morrendo”, conta o curador. “Brinco que essa exposição é meio que um museu de ciências feito por artistas”, completa.
A chegada da luz elétrica, as invenções do avião, da psicanálise, do automóvel e do elevador, entre tantas outras, enumera Marcello Dantas, forçaram o mundo a se reinventar – e foram também abraçadas pela arte. “É um tema amplo e global, então fizemos um recorte de tempo, uma janela de 150 anos que tem como evento histórico o fim da escravidão nos Estados Unidos em 1865”, explica o curador. “Ao não se ter mais a mão de obra escrava, foi necessário criar coisas para substituí-la, o que é uma mudança de paradigma na história.”
É certo que muitas são as curiosidades em torno das obras comissionadas e selecionadas para a exposição (textos nas colunas da Oca e o aplicativo do evento criado para smartphones fornecem muitas informações para os visitantes, como, por exemplo, o ano da invenção da escova de dentes, em 1938), mas Invento, orçada em R$ 2 milhões, possibilita ao público ver trabalhos de um time dos mais destacados criadores contemporâneos.
Entre os estrangeiros, a presença do próprio Boltanski (que também faz individual na Baró Galeria, nos Jardins, com a exibição de Os Arquivos do Coração) deve ser celebrada, assim como a dupla Janet Cardiff e George Bures Miller (eles exibem a instalação sonora interativa Experiment in F#Minor, feita com 72 alto-falantes), de Bill Viola, Christian Marclay, Daniel Canogar (autor de novo trabalho sobre as radiografias), Julian Opie, Damián Ortega (o mexicano inaugura mostra na Galeria Fortes Vilaça) e de Pedro Reyes, que participa com uma nova versão de seu Sanatorium, apresentado na última Documenta 13 de Kassel, em 2012.
A vinda de trabalhos do belga Panamarenko, um “inventor”, destaca Marcello Dantas, é importante de se citar. O artista, referência no tema proposto pela exposição, está representado por Raven’s Variable Matrix (2000), um “avião impossível” que remete ao aviador brasileiro Santos Dumont, e por uma peça inspirada na asa-delta. Mais ainda, os visitantes poderão apreciar a guitarra elétrica que Andy Warhol personalizou em 1967 para Lou Reed na época do Velvet Underground e o histórico Gift do surrealista Man Ray, ferro de passar cravejado de pregos.
Já a seleção de criadores brasileiros para Invento traz a participação de Guto Lacaz, Jarbas Lopes, Nelson Leirner, Paulo Nenflidio, Renata Lucas, Nazareth Pacheco, José Damasceno, o grupo O Grivo e faz menção ao navegador Amyr Klink. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.