Houve um tempo em que as cidades eram conhecidas por meio de cartões-postais e uma época em que colecioná-los era também uma forma de acompanhar o desenvolvimento e a urbanização das capitais. Foi assim com São Paulo, que também se viu imortalizada por eles. Embora o grande momento desse tipo de mídia tenha se dado no começo do século 20, por muito tempo ainda se vai manter o hábito de enviar para amigos e familiares imagens de lugares visitados ou habitados. Vários fotógrafos se dedicaram à produção desses registros, entre eles se destaca o imigrante alemão Werner Haberkorn (1907-1997), engenheiro que chegou ao Brasil em 1937, fugindo do regime nazista. Três anos depois, com seu irmão Geraldo, cria a Fotolabor, uma das mais importantes editora de cartões-postais de cidade. Como afirma o pesquisador Rubens Fernandes Junior, no texto do livro Fotolabor, a Fotografia de Werner Haberkorn: “Nas décadas de 1940 e 1950, o alemão produziu e fez circular milhares de cartões-postais que mostram a metrópole que crescia vertiginosamente. Hoje, graças a essas fotografias, podemos entender melhor a transformação urbana processada no período”.
Parte dessa coleção pode ser vista na exposição Werner Haberkorn e o Fotolabor na Caixa Cultural. A mostra reúne fotografias, cartões-postais e um vídeo sobre a histórica empresa que funcionou na Avenida São João, 282, durante 40 anos.
O centro da cidade em desenvolvimento, o Vale do Anhangabaú, o Viaduto do Chá e o da Santa Ifigênia mereceram ampla cobertura do fotógrafo. E a escolha do Vale do Anhangabaú como paisagem preferencial é fácil de compreender. “A região oferecia todos os elementos para uma imagem moderna e metropolitana da capital paulista, com seus edifícios representativos do poder econômico atuante, os viadutos expressando a prevalência da cidade circulação sobre as outras formas de fruição urbana, a convivência entre a tradição de traços europeus presente no Teatro Municipal e a pujança do concreto armado dos arranha-céus”, escreve a historiadora e pesquisadora de fotografia Solange Ferraz Lima, no mesmo livro.
Uma metrópole que cresce não só em número de prédios, mas também se automobiliza.
Cenas presentes na vasta coleção produzida por Haberkorn. Um olhar que acompanha esses momentos de transformação, os edifícios, comerciais, residenciais, as galerias que, aos poucos, vão tomando conta dos espaços, vistas panorâmicas, aéreas. Durante as décadas de 1940 e 1950, a cidade foi detalhada e registrada por ele. A estética modernista, que vigorava na fotografia naqueles tempos, também é inserida nas imagens da cidade de Werner Haberkorn. Mas não é só em relação aos cartões-postais que a Fotolabor vai ficar conhecida. O estúdio Fotolabor, inaugurado em 1940, na Avenida São João, vai se dedicar também à realização de catálogos comerciais e indústriais. Imagens ainda pouco estudadas e pesquisadas. Como explica o historiador Ricardo Mendes: “Recompor a trajetória profissional de Werner Haberkorn ao redor da empresa Fotolabor que ele, recém-chegado ao País, estabelece em São Paulo, é uma forma de avançar na constituição de uma memória da fotografia aplicada no Brasil”.
O Fotolabor permaneceu no centro da cidade até 1990. Desde 1999, a coleção foi adquirida pelo Museu Paulista. E, segundo a historiada Solange Ferraz de Lima, que é também vice-diretora da instituição, coleções como essas permitem entender as funções sociais do uso da fotografia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.