Há uma semana, no Cairo, o artista egípcio Khaled Hafez perdeu seu amigo, o também artista Ahmed Basiouny. Ele morreu sufocado pelas bombas de gás lacrimogêneo, no auge da repressão às manifestações populares pela renúncia do presidente Hosni Mubarak, no poder no Egito desde 1981. Basiouny, de 32 anos, era professor de pintura e videoarte na Universidade de Helwan e está entre os mais de 300 mortos da atual crise política egípcia, pelo fim do regime de Mubarak, considerado ditatorial.
“Uma jovem geração, que usa o Facebook, foi às ruas”, diz Khaled Hafez ao jornal O Estado de S. Paulo, por telefone. Nascido em 1963, ele se manifesta com os “novos”, como diz, otimista quanto ao “futuro democrático” em seu país. Por isso, nesse momento, o artista não teve como sair do Cairo para vir ao Brasil, já que integra a exposição “Miragens – Arte Contemporânea no Mundo Islâmico”, que será inaugurada na quarta-feira no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. As pinturas e vídeos de Hafez tratam da questão da identidade egípcia, combinando o embate entre antiguidade e contemporaneidade, tradição e consumo. “Não é de religião que se trata a luta atual no Egito, mas de política”, continua ele.
“Existe uma pertinência nas obras de Hafez, que falam de insatisfações ao contexto social e político”, diz Ania Rodríguez, curadora da mostra, já apresentada no Rio e que depois irá a Brasília, e idealizada por Rodolfo Athayde.
“Miragens” reúne 58 obras de 19 artistas (Lucia Koch é a única brasileira), alguns deles, muito conhecidos no circuito europeu e americano. Outros são apresentados como novos no cenário artístico, o que ainda aguça a curiosidade pela atual produção de artistas com raízes no eixo norte da África-Oriente Médio. De qualquer forma, a curadora reforça o intuito de se “desfazer uma imagem preconcebida”, construída e estereotipada que se tem do mundo islâmico. “A mostra é uma miragem para se entender mais a realidade e dilemas através das obras desses artistas.”
A iraniana Shirin Neshat, que vive nos EUA desde a década de 1970, é, por exemplo, um dos grandes destaques do circuito internacional. Em 2002, ela teve sua produção apresentada de forma ampla no Brasil, com uma mostra individual no Rio e com uma bela participação na 25.ª Bienal de São Paulo. Agora, em “Miragens”, Shirin Neshat comparece com fotografias dos anos 1990 nas quais fala da condição da mulher muçulmana. Outra iraniana conhecida, Shadi Ghadirian, está representada por obras da série fotográfica Ghajar. Referindo-se à estética do retrato posado do século 19 (em sépia), a artista fotografa muçulmanas com objetos banais do cotidiano. Há ainda um segmento dedicado a vídeos, em que se pode destacar as criações do artista turco Halil Altindere. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Miragens – Arte Contemporânea no Mundo Islâmico – Instituto Tomie Ohtake (Av. Faria Lima, 201). Tel. (011) 2245-1900. 11 h /20 h (fecha 2ª). Grátis. Até 3/4. Abertura 4ª, para convidados.