Quando mencionamos o nome Gordon Matta-Clark, a primeira imagem que pode ser evocada é a do artista com formação de arquiteto que fazia cortes em edifícios dilapidados. O fato é que Matta-Clark, um pioneiro da exploração de múltiplas mídias, deixou uma obra em desenho, fotografia, escultura e, como destaca uma exposição em Manhattan, filmes. Gordon Matta-Clark, Above and Below reexamina a importância dos filmes no período final de uma carreira de apenas 10 anos. Mais do que a natureza efêmera de suas intervenções, a vida encurtada tragicamente por um câncer, aos 35 anos, deve ter contribuído para a memória fragmentada da obra de Matta-Clark.

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A nova-iorquina Jessamyn Fiore nasceu em 1980, dois anos depois da morte prematura de Gordon Matta-Clark, mas cresceu na casa que o artista tinha reformado quando era casado com sua mãe, Jane Crawford. Viveu cercada de desenhos e reproduções de cibachromes – os positivos que Matta-Clark usava para documentar suas explorações urbanas, E explica o foco da exposição na galeria David Zwirner: “Os curadores às vezes trataram os filmes como documento extra mas não como um componente vital. Temos aqui filmes que são obras autônomas e merecem reconhecimento individual.”

Um exemplo que confirma o argumento e abre a mostra é City Slivers (1976), um filme de 15 minutos. A tela é dividida em compartimentos verticais em que cenas diferentes da paisagem de Manhattan se desenrolam. O processo complexo usado para obter o efeito nunca foi explicado pelo artista. Pouco antes do final do filme, a perspectiva muda, a visão do Empire State Building e do Central Park tomam conta da tela e subitamente a câmera se volta para baixo. Uma tira de texto laranja diz: “Ele simplesmente bateu no pavimento, de cara”. City Slivers foi filmado logo depois que Sebastian, o irmão gêmeo de Matta-Clark, caiu (ou se jogou) da janela do apartamento do artista.

Dois filmes que ainda não haviam sido destacados em retrospectivas anteriores, exibidos lado a lado, reforçam a importância da exploração dos subterrâneos – Substrait (1976) mostra as entranhas abaixo da estação de trens Grand Central e Sous-Sols de Paris (1977) se embrenha pelas catacumbas de Paris. O fascinante Conical Intersect (1975) mostra os cortes que Matta-Clark fez em dois prédios à espera de demolição para dar lugar ao Centro Pompidou.

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Jessamy Fiore diz que a essência da intervenção urbana de Matta-Clark é otimista: “Ele estava constantemente avaliando o espaço que nos era concedido, em oposição à simples construção do novo”.

Os desenhos de uma obra nunca realizada sugerem a carreira expansiva e visionária que a doença abreviou. Sky Hook (1978) é um estudo para casas-balões. Matta-Clark imaginou estruturas em que moradores poderiam flutuar acima das construções ancoradas no chão. Como um poeta da vida urbana.

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.