Velásquez, Vênus no espelho,1948. |
A National Gallery de Londres acaba de inaugurar a maior exposição do mundo sobre Diego da Silva Velásquez, que nasceu na Sevilha de 1599 e faleceu (1660) em Madri. De ascendência portuguesa, sempre foi obcecado pela nobreza, chegando a implorar por títulos aristocráticos. Conseguindo, aos 24 anos, tornar-se pintor oficial da corte de Felipe IV.
Edouard Manet dizia que Velásquez era o maior de todos os pintores, o precursor do impressionismo, por suas pinceladas livres nas telas e paisagens. Também um grande retratista, sendo clássicos seus quadros de famílias reais, como As meninas.
Admirador de Tiziano, Tintoretto e Veronese, é o maior artista da contra-reforma, na medida em que o barroco espanhol é o estilo da reação católica à reforma. Mas é ainda realista, que não chega aos exageros do rococó. Um barroco com luzes misteriosas e espirituais, onde as pessoas são retratadas com grande dignidade.
Velásquez, Marte,1642. |
Velásquez assistiu a expulsão dos mouros da Espanha, mas percebeu e colocou nas telas o sonho espanhol e tudo não passou de um sonho(!) de dominar o mundo. Pintou poucos nus e alguns de seus quadros se perderam, pois não os assinava. Dentre eles se destaca Vênus no espelho, um clássico claramente inspirado em Tiziano, uma composição poética com requintes quase irreais, com doce luminosidade banhando o conjunto. Foi seu único quadro de mulher nua em seu esplendor.
Utilizando cores maravilhosas, principalmente o azul, foi um perfeccionista que se impôs pelo trabalho, transmitindo uma incrível sensação de vida em sua grandiosa obra. Mas só depois de sua morte recebeu do rei (que tanto admirava) a Ordem de Santiago, mais alta condecoração da Corte de Madri.
Conhecedor dos puxa-sacos, políticos, escribas, bufões, aduladores e anões da Corte, pintou-os com sentido crítico, imortalizando suas feiúras e monstruosidades. Rompeu com o hábito classicista de colocar a figura no centro da composição neste sentido se ligando ao grande maldito Caravaggio.
Conviveu com Rubens. Depois dele é o maior retratista até hoje nascido, igualando-se a Rembrandt. Como todos os gênios, era obcecado pelas cores rosa e azul, de onde tirava poderosos realces, com a intensa luminosidade do nascer e do pôr do Sol. Daí a sensação de vida e poesia de suas composições.
Espanhol, inspirou-se nos grandes holandeses. E apesar de nobre, tinha amor pelos humildes, como no quadro clássico Os bêbados.
O Museu do Prado de Madri, onde vou constantemente (depois de tomar uns tragos de Madeira), tem a maioria de seus quadros. Mas o mecenas dos mecenas, Assis Chateaubriand, trouxe para São Paulo o clássico entre os clássicos Conde Duque de Olivares.
Imortal Velásquez.