A partir deste sábado, 15, o Itaú Cultural, em parceria com a Mostra de Cinema de São Paulo, homenageia os 50 anos de um dos maiores filmes da história: Persona, de Ingmar Bergman.
A exposição Por Trás da Máscara – 50 anos de Persona sai pela primeira vez do Bergmancenter, na ilha de Farö, e desce direto na Avenida Paulista, 149, onde permanece até o dia 6 de novembro. A mostra inclui fotos do filme e das filmagens, cadernos de anotações do diretor, roteiros, vídeos explicativos e making of. A homenagem culmina com a exibição de Persona, em cópia restaurada, dia 20, às 19h, seguida de debate com o curador Murilo Hauser, o psicanalista Contardo Calligaris, a cineasta Tata Amaral e o crítico Sérgio Rizzo.
Quem gosta de Bergman sabe que, em Farö, ele rodou vários dos seus filmes, inclusive Persona, e lá fixou residência. Morou por 40 anos na ilha e nela se encontra a instituição que cuida da preservação e da divulgação de sua obra. O que talvez pouca gente saiba é que a entidade é dirigida por uma brasileira, Helen Beltrame-Linné, que falou ao jornal O Estado de S. Paulo sobre Bergman e os caminhos que a levaram a Farö e ao Bergmancenter.
Helen conta que sua paixão por Bergman começou quando assistiu a Morangos Silvestres. Foi um relâmpago, um coup de foudre, como dizem os franceses. A partir daí, buscou ver tudo que podia do mestre. Leu a sua autobiografia, Lanterna Mágica, e acabou viajando à Suécia para assistir a uma peça dirigida por Bergman. “Mesmo sem compreender sueco”, diz. Na Suécia, conheceu seu marido e por lá ficou. Mudaram-se para Farö e, como a Fundação Bergman passava por mudanças, “surgiu a oportunidade de integrar o time. Acho que meu perfil meio esquizofrênico de cinéfila, roteirista, advogada e produtora, combinando um lado interessado em arte e criação, e outro mais bem organizado e gerenciador, caiu como uma luva para eles”.
Quanto a Persona, Helen o considera um divisor de águas na carreira de Bergman. Foi também importante do ponto de vista pessoal. “Bergman dizia que o filme havia lhe salvado a vida.” Pela história das duas mulheres que vivem numa ilha – a atriz doente e muda Elizabeth Vogler (Liv Ullmann) e a enfermeira que dela cuida, Alma (Bibi Andersson) -, Bergman mergulha fundo no espírito humano. A fotografia fantástica de Sven Nykvst, o roteiro surpreendente, o relacionamento fusional das mulheres, que culmina com a superposição dos rostos – tudo é tão intenso e intrigante que o filme continua a ser discutido 50 anos depois. “Eu e Murilo Hauser, que fizemos a curadoria da exposição, optamos por uma linha de ‘pontos de entrada’: diferentes ângulos sob os quais o filme pode ser visto. É como se abríssemos notas de rodapé no filme, explorando cenas, temas ou até mesmo frames, como no caso do prólogo”, explica Helen. O início de Persona é estupendo, com a película queimando sob a luz do projetor: “O que fizemos foi imprimir os frames do prólogo num painel gigante, dando a oportunidade de apreciar cada pedacinho do quebra-cabeça”.
Como toda obra-prima, Persona é inesgotável e, por mais que seja interpretado, deixa sempre um lado oculto, que mergulha no mistério da alma humana. “O próprio Bergman dizia que nunca havia ido tão longe em cinema quanto em Persona e Gritos e Sussurros”, diz Helen. De fato, são dois filmes que contemplam tanto a epifania quanto a experiência de abismo. Filmes para a vida toda.
POR TRÁS DA MÁSCARA – 50 ANOS DE PERSONA
Itaú Cultural. Av. Paulista, 149, 2168-1776. 3ª a 6ª, 9h/ 20h; sáb. e dom., 11h/ 20h. Grátis. Até 6/11.