Mauro Marcondes à vontade como músico: vida dupla. |
Rio de Janeiro – O coração do químico e economista Mauro Marcondes sempre balançou entre a música e a administração pública. Agora, entre deixar a presidência da Agência Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), sua última função no governo brasileiro, e assumir um posto no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington, lança seu primeiro disco, Perfil do Sal. Ele reuniu músicas feitas desde a adolescência, no início dos anos 70, quando participava de festivais e do Movimento Artístico Universitário (MAU), do qual fizeram parte Ivan Lins, Gonzaguinha e Aldir Blanc, moradores do bairro da Tijuca, na zona norte do Rio.
“Naquela época, eu conseguia conciliar faculdade e música e, apesar de nunca ter cantado em show, conseguia mostrar minhas composições nos festivais que ocorriam por toda a parte no País”, lembra Marcondes, que já teve música gravada por Sandra de Sá (o blues Receio de Errar, que ela canta no disco), mas teve carreira intermitente. “Nos anos 80, tornei-me executivo do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a música ficou esquecida. Só no ano passado, quando eu sabia que não estaria fora do PT, reencontrei a produtora Solange Böeke, amiga de muitos anos, que me animou a gravar o CD”.
Preparação
Foram três meses de estúdio, durante o verão, entre gravar as bases, refazer algumas músicas e escolher arranjos, instrumentistas e repertório. “Foi bom ouvir composições antigas, mudar o que estava datado e me surpreender com minha voz no estúdio”, conta. Os arranjos são enxutos por questões financeiras – o CD é uma produção independente – e estéticas. “Não havia dinheiro para ter uma orquestra no estúdio, mas para cada instrumento chamei um grande músico, que improvisou sobre os arranjos do Wilson Nunes.”
Vida dupla
Aí entram os sopros de Carlos Malta, a bateria e a percussão de Téo Lima, o baixo de Cássio Tucunduva e a voz de amigos acumulados nesses 20 anos de vida dupla, entre a burocracia governamental e a música. Além de Sandra de Sá, cantam com ele Cláudio Cartier (Mar Aberto), o compositor Altay Veloso (preferido das cantoras brasileiras, que canta Nada de Falso) e uma cantora da nova geração, Luanda (Lua Cheia). Com uma voz firme como se tivesse cantado a vida inteira, Mauro passeia entre sambas e blues, e a única coisa a lamentar é que o BID vai afastá-lo dos palcos. “Fiz um show no Rio para lançar o CD e me senti muito bem no palco, com uma banda me acompanhando, pois só havia cantado me acompanhando ao violão”, diz. “Devo passar dois anos em Washington e só depois será possível retomar a música. O disco fica como um registro do que tenho feito nessa área.”