A reunião dos ex-integrantes do Grupo Rumo especialmente para a gravação de um disco e a realização de uma série de shows é o melhor exemplo que se pode ter de como manter a essência de um grupo mesmo depois de anos de seu fim e transpô-la para novos tempos. Universo, o álbum que foi resultado desse reencontro, resgata o delicioso DNA sonoro e vocal do Rumo, sem soar datado. É o Grupo Rumo dialogando com a contemporaneidade. E eles dão um passo além em muitos aspectos da história da trupe. “É o nosso disco com mais diversidade de composições e de arranjo”, destacou Pedro Mourão, em entrevista ao Estado, quando o grupo falou pela primeira vez sobre seu retorno, em novembro do ano passado.

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Formado por jovens estudantes em 1974, em São Paulo – e, mais tarde, um dos destaques da chamada Vanguarda Paulista -, o Grupo Rumo chegou ao fim em 1992. Mas a amizade ficou. Para esse projeto especial, Pedro Mourão se reuniu a outros membros da formação original: Luiz Tatit, Ná Ozzetti, Hélio Ziskind, Akira Ueno, Paulo Tatit, Gal Oppido, Zecarlos Ribeiro e Geraldo Leite. Ciça Tuccori, que também fez parte do grupo, morreu em 2001.

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No novo álbum, existe uma sofisticação sonora – dentro da simplicidade natural, sem rebuscamentos, do grupo, vale ressaltar – talvez nunca ouvida em um disco do Rumo. A trupe divertiu-se lembrando dos tempos, digamos, com menos recursos da juventude. “O primeiro disco do Rumo (de 1981), foram os pais do Helinho que bancaram”, lembrou Akira Ueno. As coisas melhoraram em Diletantismo, lançado em 83, pela Continental, e Quero Passear, em 88, pela Eldorado. “Com (o disco) Caprichoso, também foram os pais de Helinho”, continuou Ueno. “Toda hora que o Rumo quase ia acabar, iam lá os pais do Helinho”, emendou, bem-humorado, Luiz Tatit.

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Shows

O álbum Universo é aberto com o festivo Toque o Tambor, de Luiz Tatit, trazendo os vocais da trupe, uma marca importante na obra do Rumo. Na canção, a bela voz de Ná Ozzetti naturalmente se sobressai no canto coletivo. E é a cantora quem conduz a música Universo, dos irmãos Paulo e Luiz Tatit, que dá título ao trabalho. A música, poética, vem numa toada delicada, e encaminha-se para um flerte ‘carnavalesco’, com cuíca e tamborins, em trechos como “Combina brisa e vendaval/Combina missa e carnaval”. Um primor.

Ná Ozzetti estreia como compositora no Rumo. Incentivo do amigo Luiz Tatit. Com ele, ela assina a ótima Dengo e Livro Aberto. Ueno também faz sua primeira composição em um disco do grupo, em Paulista, parceria com Pedro Mourão. É o lado essencialmente paulistano do grupo pulsando forte. “Entrei na Paulista e pensei/Tem conflito e a cidade vai parar”. Nada mais justo: o Rumo fez sua história na cena de São Paulo. Um dos letristas do grupo, Luiz Tatit fecha também o disco com uma canção sua, Maldade do Tempo. “A questão do tempo foi o único tema comum a todos (os compositores). Todos tocaram nesse tema de alguma forma, numa espécie de revisão de vida, ou até uma reflexão sobre o tempo”, diz ele.

Com 14 canções – duas delas compostas nos anos 1990 – e produção musical de Marcio Arantes, Universo será lançado pelo Selo Sesc, nas plataformas digitais e disco físico, na sexta-feira, 12. Ainda no pacote, estão a exibição do filme Rumo nesta quarta, 10, no festival É Tudo Verdade (leia abaixo), e shows do dia 25 a 28, no Sesc 24 de Maio.

GRUPO RUMO

Sesc 24 de Maio. Teatro. R. 24 de Maio, 109, centro. De 25 a 28/4. 5ª e 6ª, às 21h; sáb., às 18h e às 21h; dom., às 18h. R$ 12 / R$ 40

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.