Chico Terra pretende adaptar a obra para o teatro. |
A realidade vivida nos presídios brasileiros é o tema do livro Diário de um Detento, de Jocenir Prado. A obra está sendo lançada hoje em Curitiba, no bar Café & Cultura. Jocenir, de 50 anos, foi preso injustamente em 1994 e condenado a oito anos de detenção, dos quais chegou a cumprir quatro. No lugar errado e na hora errada, presenciou uma receptação de mercadorias roubadas e foi envolvido pela polícia no caso. A experiência traumática na Casa de Detenção do Carandiru e em outros presídios paulistas deu origem ao livro.
Com uma narrativa simples, Jocenir aponta diversas falhas no sistema carcerário brasileiro, fala do estresse vivido na cadeia e de como é difícil para uma pessoa, depois de presa, conseguir provar que é inocente. Durante os quatro anos que passou encarcerado, o autor presenciou uma série de torturas a presos e a inter-relação entre grupos de mafiosos formados tanto por detentos quanto por policiais. “O livro não tem a pretensão de denunciar ninguém”, diz o autor. “Quero apenas despertar minha alma.”
Em um dos capítulos, Jocenir narra seu encontro com o médico Dráuzio Varella, autor do livro Estação Carandiru, que também fala da realidade daquele que foi considerado o maior presídio do país. Um pouco adiante, fala como conheceu, também no Carandiru, o músico Mano Brown, do grupo Racionais MC”s, com quem compôs o rap Diário de um Detento, que recebeu o nome da obra literária e foi inspirado nela.
Na carceragem, o autor recebeu o apelido de “Tiozinho da Caneta”, pois, com curso superior incompleto, era um dos poucos que sabia escrever. Passava muitas horas do dia redigindo cartas de amor ou a parentes de outros presos. Por ser o único a ter redação suficiente, chegou a ser convidado a escrever o estatuto da facção Comando Democrático da Liberdade (CDL), que disputa com o Primeiro Comando da Capital (PCC) o controle de alguns presídio paulistas.
Para o diretor teatral Chico Terra, que pretende adaptar o livro para o teatro em 2003, a obra narra o círculo de horrores vividos em uma prisão e é considerada extremamente importante para acabar com a visão preconceituosa que algumas pessoas têm em relação a quem vive em presídios. “O livro mostra que há presos e presos: apesar de toda a violência entre detentos e entre detentos e a polícia, também existe muita solidariedade”, afirma. “A obra também denuncia o drama de dezenas de pessoas que, como Jocenir, foram presas injustamente e obrigadas a sentir na pele toda a angústia da prisão.”
Em 2003, Jocenir deve lançar o livro Sobreviventes do Inferno, composto de poemas escritos na prisão.
Serviço: Lançamento do livro Diário de um Detento, de Jocenir Prado. Data: hoje, amanhã e sexta-feira. Horário: a partir das 14h. Local: Café & Cultura. Endereço: rua Carlos de Carvalho, 26, centro de Curitiba.