A aventura de Evandro Mesquita na banda Blitz começou há mais de 30 anos, nos anos 1980. Revelado no grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, ele curtia fazer rock à moda carioca, cheio de irreverência. O nome da banda foi dado pelo então baterista do grupo, Lobão. E a cantora Fernanda Abreu fazia parte dos backing vocals. Após vários shows pelo Rio, a banda se consagrou no palco do Circo Voador, em 1982. O caminho natural foi lançar um compacto, com Você Não Soube Me Amar (e, no lado B, a repetição de “nada, nada, nada”), que, depois, deu origem ao LP As Aventuras da Blitz, sucesso de vendas reunindo músicas como Você Não Soube Me Amar e Mais Uma de Amor (Geme Geme).

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Três décadas depois, a Blitz, ainda com Evandro como seu frontman, acaba de lançar o disco Aventuras II, uma espécie de sequência daquele álbum histórico da banda – e do rock nacional -, com shows de lançamento em São Paulo, nos próximos dias 13 e 14, no Teatro J. Safra. Sem querer ser um revival, mas reforçar a continuidade da banda, Aventuras II reúne 12 faixas inéditas, todas de autoria de Evandro com parceiros, e uma composição de Miguel Gustavo, O Rei do Gatilho, samba que fez sucesso com Moreira da Silva e que ganhou uma versão ‘blitziana’ na voz de Evandro.

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O disco conta com vários convidados especiais, incluindo os contemporâneos Paralamas do Sucesso e Frejat, além de Seu Jorge, Sandra de Sá, Zeca Pagodinho, Alice Caymmi, Andreas Kisser, Pretinho da Serrinha, MC Cert e outros. “Esse disco, a gente fez durante dois anos e pouco. Conseguimos um estúdio próprio (Toca da Onça), então tivemos bastante tranquilidade. Alguns convidados não estavam na nossa programação. Só de cinco meses para cá é que essa ideia começou a tomar corpo e as pessoas toparam, o que deixou a gente super-honrado”, diz o músico e ator Evandro Mesquita, de 64 anos, em entrevista ao Estado, do Rio. “A gente acha que o disco está tão forte quanto o primeiro, tão prazeroso. E a gente resolveu fazer isso: a aventura continua ou um novo recomeço.”

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Mas aquele primeiro disco, o As Aventuras da Blitz, de 1982, ainda é muito presente na carreira da banda. E no repertório dos shows. Além de trazer uma coleção de sucessos, ser embalado por uma capa colorida estilo HQ (inspirada em X-Men, como já contaram Gringo Cardia e Luiz Stein, responsáveis pelo projeto gráfico) e projetar nacionalmente a banda carioca, o álbum ficou marcado também pela ação da censura. As duas últimas faixas do disco, Ela Quer Morar Comigo na Lua e Cruel, Cruel Esquizofrenético Blues, foram proibidas. Segundo Evandro, a determinação veio de uma temida censora, a Dona Solange, por causa dos palavrões nas letras. A resposta da Blitz não poderia ser melhor: essas duas faixas foram mantidas nos vinis, só que riscadas. Aquilo causou impacto em quem comprou o disco.

“A gente achava que censura só era para o Chico Buarque. A gente queria agradar à nossa turminha da praia, que eles se sentissem representados por uma banda. Aí tivemos essa surpresa desagradável. Foi uma ideia do Mariozinho Rocha, que foi nosso produtor do primeiro disco: riscamos com prego a master dos vinis. Aí todos saíram com aquela marca, para passar para todo mundo a agressão que a gente estava sofrendo na nossa arte”, conta.

Evandro diverte-se lembrando que, por causa disso, muitas agulhas de vitrola foram vendidas na época. As faixas danificadas estragavam a agulha. “A Gradiente até mandou presente para a gente de tanta agulha que eles venderam, mas isso foi uma atitude política também, que veio junto com o pacote todo do primeiro disco.”

Desde de As Aventuras da Blitz até hoje, a banda passou por pausas e mudanças – “A banda é um casamento a 7. Se a dois, já é difícil, a 7 então é muito mais”, diz ele. Do disco de estreia, ficaram apenas Evandro Mesquita (vocal, guitarra e violão) e Billy Forghieri (teclados e parceiro de Evandro em boa parte das músicas do novo trabalho). A formação atual, que completa 12 anos, traz ainda Juba (que entrou no lugar de Lobão, no segundo disco), Rogério Meanda (guitarra), Cláudia Niemeyer (baixo), Andréa Coutinho (backing vocal) e Nicole Cyrne (backing vocal). Aventuras II, que tem projeto gráfico assinado novamente por Gringo Cardia, chega com uma sonoridade eclética, mesclando rock, funk, pop, blues, samba e reggae. A banda propõe ainda a seus convidados mergulhar em seu universo e, em alguns casos, a avançar em outros campos. Zeca Pagodinho, por exemplo, participa de Fominha, com uma levada reggae. “Mas tem uma malandragem de samba ao mesmo tempo”, ressalta Evandro. A banda e o sambista se encontravam nos aeroportos. “A gente conversava sobre o Moreira da Silva. Falei: ‘Zeca, eu podia mandar uma música para você, ver se você topa cantar com a gente. E ele: ‘Não precisa nem mandar, já topei’.”

Já a cantora Alice Caymmi faz uma interpretação intensa em Noku Pardal, cuja letra é um misto de drama e deboche. “Bem que o desgraçado podia ter me ligado/Mas esse filho da p. não para enquanto não me ver maluca”, canta Alice, sofrida. “Quando a gente convidou, ela ficou superanimada: ‘Que bom, vou cantar uma música alto-astral da Blitz’. E a gente deu para ela a música mais triste. É um tango”, diz Evandro. “Ela foi brilhante, e tenho uma gratidão absurda pela família dela. Tenho fotos do Dorival (Caymmi, avô da cantora) no nosso camarim no Canecão, em 1982, 83. Foi inesquecível, o Canecão era palco da MPBzona, e a gente bateu todos os recordes de público lá.”

Em Martelinho de Ouro, que transita entre o rock e o samba, entre a guitarra do heavy metal e a percussão do carnaval, Evandro convoca três músicos de estilos bem distintos: Seu Jorge, Andreas Kisser e Pretinho da Serrinha. “Foi sensacional essa junção. Primeiro, veio o Seu Jorge, e a gente fez a espinha da música. Falamos: ‘a gente podia acentuar esse samba nessa hora’. Chamamos o Pretinho, e o Andreas, a gente é fã. A Blitz sempre ousou nessa coisa de jogar tudo no liquidificador e sair com uma personalidade própria, joga influências daqui e lá de fora: Stones com Moreira da Silva, Jackson do Pandeiro com Bob Marley.” Tem ainda homenagem a Jorge Ben Jor, Novos Baianos e Titãs em Nu na Ilha, com Paralamas e Davi Moraes; a dançante Baile Quente, com Frejat; e por aí vai.

Este ano, Evandro diz que quer se dedicar ao novo disco e à estrada. Por isso, só deve fazer pontuais trabalhos na TV. O que pode incluir uma nova temporada da Escolinha do Professor Raimundo e participação na série Minha Estupidez, no GNT, a convite de Fernanda Torres. “Me chamaram para fazer novela, Malhação, e eu não quis”, diz. “Quero ficar na estrada com a banda mostrando esse disco.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.