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Euclides da Cunha inspira palestra de Walnice Galvão

Uma das maiores especialistas em Euclides da Cunha (1866-1909) no Brasil, com 12 livros publicados sobre o escritor e sobre Canudos, a crítica literária e professora emérita da USP Walnice Nogueira Galvão participará da próxima edição da Festa Literária Internacional de Paraty, cujo homenageado é o autor de Os Sertões. A Flip deste ano ocorre de 10 e 14 de julho, na cidade do litoral fluminense.

Uma nova edição de No Calor da Hora – A Guerra de Canudos nos Jornais, a primeira em cerca de duas décadas, também está sendo preparada pela editora Cepe/Selo Suplemento Pernambuco. O livro lançado em 1973 – a tese de livre-docência de Walnice – é o motivo pelo qual a pesquisadora até hoje não confia nos jornais. “Você me desculpe”, diz ela por telefone, “mas a mídia era cúmplice e fazia lavagem cerebral dos brasileiros”.

Euclides, explica, era prata da casa do Estadão. Desde que fez um ato de protesto contra a monarquia e foi expulso da Escola Militar, no Rio, em 1888, se mudou e o jornal (então A Província de São Paulo) o acolheu. Ele escreveu “violenta propaganda republicana”, segundo Walnice, e depois da Proclamação voltou para o Rio, de onde seguiu colaborando para o veículo.

Em 1897, vai para Canudos (Os Sertões sai em 1902) a pedido do jornal. Ele fica menos de um mês no local, no fim da Guerra. “É um fenômeno curiosíssimo o que acontece ali, porque ele era tenente do Exército, engenheiro militar, depois civil. Mas ele era imbuído do que aprendeu na Escola Militar, na época uma escola de vanguarda, seguindo o modelo da Revolução Francesa. Os militares da época viraram revolucionários. Então, ele vai para Canudos achando que vai combater os monarquistas. Chegando lá, encontra pobres miseráveis, e o exército equipadíssimo massacrando aquele povo. Ele então sofre um problema de consciência tremendo, o qual você pega com a mão nas páginas d’Os Sertões, e muda de lado. Ele deixa de torcer pelo exército e passa a torcer pelos rebeldes. Isso é uma coisa tremenda.” O livro é a história dessa passagem.

Embora não tenha se envolvido diretamente no movimento de derrubada da monarquia, Cunha foi beneficiado. “Imediatamente após o golpe que proclamou a república, ele é readmitido na Escola Militar.”

“Euclides tem muito a dizer sobre o que está acontecendo no Brasil hoje”, garante Walnice. “Ele tinha uma preocupação com a justiça social e escreveu um livro que é um monumento de denúncia da maneira com que o Brasil trata os pobres, a ferro e fogo, num momento que os pobres também estão sendo tratados a ferro e fogo. O processo adquiriu outros disfarces, mas isso não mudou.”

A escolha de Euclides tem a ver com a vontade de Fernanda Diamant, a nova curadora da Flip, de investir mais em não ficção na programação do evento em 2019. “Os Sertões é o primeiro clássico de não ficção brasileira, uma obra exemplar. Uma não ficção que é uma grande literatura”, disse a curadora.

O livro está disponível em algumas edições. Uma coedição da Edições Sesc e da Ubu, organizada e comentada por Walnice Nogueira Galvão, resultou em dois produtos diferentes (a Ubu lançou como caixa, em 2016; a Sesc publicou um ano antes, num volume único). Leopoldo Bernucci editou um volume de 928 páginas para a Ateliê Editorial, em 2018. A Martin Claret também tem uma versão na praça – a chancela da Flip costuma estimular o mercado a soltar novas edições.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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