Estudo revela a rica cultura ucraniana no Paraná

A arquitetura religiosa ucraniana é um verdadeiro ?tesouro? para os arquitetos, historiadores e para todos os profissionais interessados na área. Por conta disso, um grupo de pesquisadores de Curitiba decidiu mapear cerca de 20 igrejas ucranianas no Paraná e, ao se depararem com toda a riqueza arquitetônica, acabaram analisando pelo menos 200. 20 delas foram medidas, fotografadas e tiveram suas histórias analisadas profundamente. Tudo isso será mostrado em um livro, em uma exposição e em um CD room. Foram escolhidas igrejas porque elas representam o que há de mais característico na arquitetura ucraniana, já que a etnia valoriza muito o lado religioso.

Um dos pesquisadores, o professor de História da Arquitetura Paranaense da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Key Imaguire Júnior, explica que muito se dava atenção (e merecidamente, segundo ele) às etnias dos italianos e poloneses, porém se esquecia dos ucranianos. De 80 a 90% dos ucranianos e descendentes desta etnia no país estão no Paraná, predominantemente nos municípios de Prudentópolis (sudeste do Paraná), União da Vitória (sul) e em algumas regiões no norte do estado. O professor diz que em meio a muitas construções que já se perderam no tempo, as igrejas da Serra do Tigre (em Mallet, no sudeste) e Marco Cinco (em General Carneiro, também no sudeste) chamaram a atenção do ponto de vista arquitetônico. ?Elas ainda mantém a tecnologia de encaixe de troncos nas extremidades, técnica do Oeste da Ucrânia?, explica. Segundo Key, a grande maioria delas têm mesmo a tecnologia de tábua e ripa, o que fez o sincretismo da cultura ucraniana com a brasileira. ?Nossa preocupação é justamente essa, a perda dessa herança?, analisa o pesquisador.

Arquivo
O memorial ucraniano no Parque Tingui, em Curitiba.
De 80 a 90% dos ucranianos
e descendentes desta etnia
no país estão no Paraná.

Outra pesquisadora do projeto, a especialista em História da Arte e arquiteta Marialba Gaspar Imaguire, diz que as igrejas feitas de madeira é que trazem as características do ucraniano ?puro?, não-descendente. ?Algumas delas ainda estão muito bem cuidadas, mas outras lamentavelmente já foram até substituídas por construções de alvenaria?, comenta. As igrejas mais antigas têm mais de 100 anos. ?É um acervo que o país tem que precisa ser cuidado. Aqui temos as igrejas octogonais, que não são encontradas nem na Ucrânia mais?, analisa a arquiteta. A cúpula (cuja quantidade pode chegar a 33, a idade de Cristo) e o ikonostás (uma espécie de divisão do altar com os fiéis) são dois importantes elementos religiosos da cultura ucraniana e que ainda são mantidos nas igrejas do Paraná.

O projeto conta ainda com a pesquisa do Mestre em Arquitetura Fábio Domingos Batista, e com a especialista em Arquitetura, Sandra Correa. A equipe percorreu cerca de 15 mil quilômetros para fazer o mapeamento nas igrejas. Além de Prudentópolis, União da Vitória e Mallet, os pesquisadores foram a Antônio Olinto (sudeste do Paraná), Apucarana (norte), Braganey (oeste), Cruz Machado (sudeste), Dorizon (sudeste), Irati (sudeste) e Paula Freitas (sul). O levantamento é só a primeira parte do trabalho. O grupo também está fazendo pesquisas em arquivos e bibliotecas públicas e particulares do estado, além de entrevistas com moradores das regiões estudadas. A pesquisa é patrocinada pelo programa Petrobrás Cultural, Lei Federal de Incentivo à Cultura. Os pesquisadores fazem parte do Instituto ArquiBrasil.

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