Estudantes pesquisam as curiosidades da comunidade escolar

É gratificante constatar o interesse dos estudantes ao serem estimulados a pesquisar fatos que ocorreram há tempo e que permanecem na memória dos mais idosos. Refiro-me aos discentes do Colégio Estadual Ângela Sandri Teixeira, bairro Tranqueira, Almirante Tamandaré-PR, que na disciplina de História encontraram 64 curiosidades da comunidade escolar. Lamento não poder publicar todas, pois não existe espaço para tanto.

Higiene

Rodrigo do Pilar e Mario Sérgio Pego Martins entrevistaram Antônio Carlos Carvalho que disse: ?As pessoas não possuíam creme dental para a higiene bucal. Descobriram que se elas passassem carvão nos dentes, eles ficariam brancos. Isso foi aceito por todos porque o carvão fornecia, realmente, o branco nos dentes das pessoas?.

Com o tempo, as pessoas perceberam que não bastavam apenas dentes brancos, mas dentes saudáveis e protegidos. Então começaram a analisar alguns produtos, que fornecessem proteção a eles. Descobriram que o fumo fornecia proteção. No começo as pessoas estranharam, porém depois aceitaram. Fornecia proteção porque não deixava que bactérias atacassem os dentes. Desta forma, as pessoas começaram a usar o carvão para deixar os dentes brancos e a mascar fumo para deixar os dentes protegidos. Mas havia um problema que intrigava a população: ninguém agüentava o mau hálito das pessoas.

Em contato com dona Belizaria, as alunas Tatiane Siqueira e Luciana Maria Antunes ficaram sabendo que se faziam sabões com abacate, que se limpavam as panelas com cinza e que se cozinhava a canjica nas cinzas. Comenta-se, segundo Francieli Cristina Pupa, que as roupas eram lavadas com sabão de cinzas.

Trabalho

Vitalina Gonçalves Cordeiro, 66 anos, informou à Viviane Thais Gonçalves Cumin que os adultos que trabalhavam na roça levavam os filhos (a partir dos 7 anos) para ajudar no trabalho. Já Emilia Cumin, 58 anos, conta que, devido à falta de professoras, existiam adolescentes que, após um período de preparação, se tornavam educadoras, com 14-15 anos de idade.

Com 88 anos, Lúcia B. Stival continua trabalhando. Ela disse para as estudantes Flávia Stival, Maria Juliane Stival e Aline Vieira Martins que trabalhou na lavoura desde os 10 anos de idade. Era comum os casais terem muitos filhos, pois quando crescessem ajudariam na roça. Lúcia teve oito irmãos, hoje só tem um vivo, o caçula.

Lúcia, com 17 anos, casou-se com Antônio Stival e continuou trabalhando de sol a sol. Ao mesmo tempo em que o casal plantava para o sustento da família, também plantava para vender. Saíam de carroça oferecendo de porta em porta os produtos que cultivavam. Mas durante a doença de Antônio e após o seu falecimento, Lúcia teve que trabalhar dobrado, pois tinha quatro filhos para criar.

Hoje com 26 netos, 50 bisnetos e três tataranetos, Lúcia ainda trabalha, mas não como antes, pois tem sua imensa família que lhe ajuda.

Brinquedos

Conforme Maria Cordeiro Santos, 67 anos, as pessoas, que não podiam comprar, confeccionavam os próprios brinquedos. Eram feitos de milho verde, as bonecas eram produzidas a partir de roupas normais, os balanços eram feitos com cipós. (dados coletados por Viviane Thais Cumin).

Lazer

Maria de Lourdes Lovatto, moradora de Tranqueira desde 1951, explica que no salão do seu Juvino de Barros, onde todo domingo tinha matinê, os jovens se reuniam para dançar. No final da tarde todos iam para a estação de trem para namorar. Lovatto conta ainda que quando veio a luz elétrica, o único morador que tinha televisão era seu Atilho de Souza Machado que era padeiro. As pessoas iam ao seu Atilho para assistir novelas, Bonanza, O homem Virginia, etc.

Conta-se, conforme a estudante Amanda Rachel Czelusniak, que havia um salão de baile denominado Botão de Rosa. Para entrar no baile todos os homens deveriam usar uma flor na lapela.

Transporte

Segundo Eloyse Caroline de Siqueira e Michele Frei, os carros que existiam antigamente eram carroças que serviam para trabalhar e passear. Para Durval Vaz, entrevistado pelos alunos Amanda Marcella de Cristo Siqueira, Andressa Cristina Gusso, Adenilson Schnaider, Carla Luana Margune, Elisson Bruno Vaz, João Paulo Comim e Mildrins Perpetua Alves, ?era preciso que as carroças tivessem rodas grossas porque se tivessem rodas finas afundavam na areia?.

Comércio  De acordo com Maria Luiza Borges Aifel, 64 anos, da pesquisa de Kátia Mirele Aifel, existiam manjolos, engenhos rudimentares movidos à água, úteis na produção da farinha de milho. No bairro de Areias, os manjolos de fubá pertenciam a Ângelo Gulin. A professora Sueli Antoniacomi salienta que também o sr. Gulin possuía uma fábrica de vinho.

Para Claudini Maria, que coletou informações com Sibele Maria Lovatto Zampieri, o primeiro moinho de fubá foi construído por Francisco Lovatto e Bortolo Lovatto. Este fato fez com que muitos moradores da região de Rio Branco do Sul fossem até Tranqueira para moer milho, entre outros.

Anderson José Ramos, que entrevistou Neuza de Lara Bomfim, explica que quando a região tinha poucos moradores não existiam mercados, apenas armazéns que ficavam distantes. Ele explica: ?Como não havia lugar para deixar minha tia, que ainda era nenê, e não existia carrinho de bebê, a minha avó colocava a tia dentro de um saco e jogava nas costas para ir fazer compras?.

Jorge Antonio de Queiroz e Silva é pesquisador, historiador, professor. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

queirozhistoria@terra.com.br

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo