Porto de Paranaguá aos fundos (1912). Cal extra especial
sendo descarregado, ao lado
 José D. Chimeli.
 (Foto doada por Teolindo Chimelli)

Sobre a origem do nome Tranqueira, as fontes orais apontaram que o local foi descanso dos tropeiros (que vinham do Açungui, da Ribeira e de Cerro Azul). Eles viajavam levando animais para vender, tinham que passar pela cobrança, ou melhor, a cada cabeça de gado transportada era cobrada uma taxa de imposto. Para que a cobrança se realizasse, foi necessária a construção de uma porteira que, na época, foi considerada uma tranqueira. Pelo uso constante do nome pelas pessoas que iam a Curitiba, o local ficou conhecido por Tranqueira. (Pesquisa realizada pelos professores Renato Ferro Sofiati e Adalzi Catarina Gulin Paes e os estudantes da 7.ª e 8.ª séries do Colégio Estadual Ângela Sandri Teixeira, em 1986, com apoio da comunidade).

continua após a publicidade

Publiquei, aos 27 de fevereiro de 2005, no O Estado do Paraná, o documento Tranqueira, nome que dá o que falar. O trabalho abordava o desejo de mudança de nome por parte de alguns moradores do bairro Tranqueira, Almirante Tamandaré-PR, por acharem que é motivo de zombaria. Pela ressonância da publicação entre professores, estudantes e alguns comerciantes, além de manifestações por vários e-mails, resolvi fazer uma pesquisa com os alunos do referido local, que estudam no Ensino Médio do Colégio Estadual Ângela Sandri Teixeira, turno matutino. Contatei o colega para que fizesse o mesmo com os alunos do noturno. Nos dias 7 e 11 de março foi formulada a seguinte pergunta: Você é a favor ou contra a mudança do nome do bairro Tranqueira? O resultado está explicitado no quadro.

Sem dúvida, a maioria dos discentes zelou pela manutenção do nome. Entendem que Tranqueira tem história e exige respeito.

E não é para menos, o bairro tem mais de 100 anos. Muitas informações estão na memória, como indicam os seguintes exemplos:

continua após a publicidade

Relata-se que o cemitério de Tranqueira é o mais antigo da região. O saudoso Teolindo Chimelli (o Leleto) dizia que moradores de Rio Branco do Sul, de Cerro Azul e de outros locais de Almirante Tamandaré procuravam o cemitério para depositar os restos mortais dos parentes.

Em 1912, José Domingos Chimelli, com ajuda dos colaboradores, construiu o primeiro forno de cal. Na atualidade, existem várias dessas indústrias que impulsionam a economia do bairro.

continua após a publicidade

Não se sabe quando foi construída a serraria dos Stocchero, de Antônio Stocchero. Com certeza, foi uma das primeiras do ramo no Paraná. A serraria foi substituída por um moinho de cal.

Por volta de 1916, ocorria a extração de blocos de pedra para a marmoraria que pertencia ao sr. Guilherme Kalkamann.

Devota de Nossa Senhora das Dores, a família Cavassin doou a imagem da santa à antiga capela de Tranqueira. A capela, lamentavelmente, foi derrubada, mas a imagem permanece na nova igreja de Tranqueira.

No ano 1920, Gustavo Joppert produziu um famoso apiário.

Dr. Berkol tinha um haras, com Cavalos Puro Sangue. Lá ocorreram competições hípicas com troféus.

A estação de trem de Tranqueira foi construída em 1909. O prédio construído por Antônio Stocchero, em 1901, foi casa comercial e descanso dos tropeiros. A estação de trem sofreu incêndio que se suspeita criminoso. O prédio foi derrubado, sendo desrespeitada uma das referências da comunidade.

PS: Aos 21 de março de 2005, Aramis Chain, livreiro e professor de história, administrou palestra sobre Ética e Política no colégio acima citado. No dizer dos participantes foi uma magna manhã. A consciência crítica foi a tônica da conferência. Em determinado momento, Chain foi solicitado para que opinasse sobre a problemática do nome Tranqueira. Embora resida em Curitiba, foi enfático: ?O nome é uma referência, nunca poderá ser mudado?.

Jorge Antônio de Queiroz e Silva é historiador, pesquisador, professor. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.
queirozhistoria@terra.com.br