Produzir um filme só com base na inspiração é balela. Por trás de um produto de sucesso que chega ao grande público estão os detalhes minuciosos pensados e executados por uma esforçada e vigorosa equipe. A preparação do cenário, a confecção do figurino, a escolha dos atores… Mas de que serve tudo isso sem um bom roteiro?
Antes de rodar uma de suas obras-primas, 8 e «, de 1963, o cineasta italiano Federico Fellini, na época já reconhecido como um grande diretor, sofreu do mau mais temido por quem cria histórias e já atingiu o auge da carreira: bloqueio criativo.
Para um cineasta meia boca, a solução poderia ter sido abandonar o projeto. Para Fellini, o problema se tornou a ideia que salvou o andamento do filme: fazer, então, um filme que falasse sobre as dificuldades que um diretor enfrenta quando as ideias desaparecem, o que está retratado no 8 e «, hoje considerado um clássico, estrelado por Marcello Mastroiani como o alter ego de Fellini, e ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro.
Embarcando nessa onda, o musical Nine, cotado para o Oscar deste ano, estreia hoje em Curitiba, fazendo uma homenagem a Fellini e a esta história original. Quem encarna o papel do diretor Guido Contini em Nine, referência a Fellini, é o ator Daniel Day-Lewis, que de início receou assumir o personagem por ter que cantar.
Junto com Day-Lewis, Nine conta com um elenco permeado de bonitas mulheres ligadas, de algum modo, a Guido, que inclui Marion Cotillard (sua mulher), Penélope Cruz (sua amante), Judi Dench (sua figurinista e confidente), Fergie (uma prostituta de sua juventude), Kate Hudson (uma reporter norte-mericana), Nicole Kidman (a estrela de seus filmes) e Sophia Loren (sua mãe).
Bem produzido tecnicamente e dirigido por Rob Marshall, Nine lembra em alguns momentos o musical Chicago, que também tem a direção de Marshall, que conta a história de um crime da época da Lei Seca nos Estados Unidos, que arrebatou seis Oscars, incluindo o de melhor filme.
Nine é baseado no musical de mesmo nome da Broadway (que por sua vez foi inspirado em 8 e «), mas o filme teve alterações em todas as letras e músicas, além da incorporação de três canções inéditas.
Uma delas, Cinema italiano, interpretada por Kate Hudson, é uma homenagem à influência da cultura pop dos filmes italianos da década de 1960, quando as produções da Itália eram a nova sensação e simbolizavam o auge da realização cinematográfica, além de dar ao mundo um novo estilo de moda ao transformar aquele universo de gravatas estreitas e carros esportes num estilo de vida a que as pessoas de todo o mundo aspiravam.