Cinema

Estreia nova versão de “As Viagens de Gulliver”

“As Viagens de Gulliver”, que estreia hoje, é um filme infantil sem o menor compromisso de ser fiel com seu homônimo, clássico da literatura inglesa, escrito há 284 anos por Jonathan Swift. Talvez um dos grandes problemas do longa seja a incapacidade de Jack Black, que interpreta Gulliver, em se desprender de seus trejeitos característicos. No livro, a história pode ser interpretada de várias formas, dependendo de quem a lê. Trata-se, sem dúvida, de uma obra que agrada às crianças, mas por trás dela há uma sátira à sociedade do final do século 17 e início do 18, além de uma ferrenha crítica à política inglesa contra a Irlanda e as guerras travadas entre Reino Unido e França.

As Viagens de Gulliver, enfim, é mais um drama do que qualquer outra coisa. Mas não nesta adaptação cinematográfica. A começar pelo fato de que o filme só aborda a primeira viagem de Gulliver à terra de Lilipute, com uma breve passagem pela ilha de Brobdingnag. No livro, Gulliver passa por outros países imaginários, como Laputa e a terra de Houyhnhm, que sequer são citados no longa.

É em Lilipute que ele encontra os seres pequeninos, de apenas 15 centímetros. Apenas fatos chaves do livro estão no filme. O resto é tudo invencionice hollywoodiana. Da obra literária, estão momentos como o naufrágio, a captura de Gulliver pelos pequenos seres, a ajuda que ele dá na guerra contra a nação dos Blefuscu, e a antológica passagem em que Gulliver apaga um incêndio no quarto da rainha urinando em cima dele.

O longa adapta a história para os dias atuais. Gulliver é um office boy de um jornal. Há dez anos, sua única função é entregar as correspondências para os jornalistas, sendo que alimenta um amor platônico pela editora. Num dia ele cria coragem e vai falar com ela, dizendo saber escrever muito bem. Ela acredita e o manda fazer uma reportagem sobre o Triângulo das Bermudas. Lá ele sofre um naufrágio e vai parar na ilha imaginária de Lilipute.

É na ilha que Black imprime seu estilo. De bermuda e chinelos, o Gulliver do século 21 encontra uma micro sociedade do século 17. Lá, ele conta para os pequeninos habitantes trechos dos filmes “Guerra nas Estrelas”, “Avatar” e “Titanic”, entre outros, dizendo ser sua própria história, além de colocar Guns and Roses para tocar no seu aparelho iPod. O mais bizarro e fora do contexto ainda está por vir. Trata-se de um robô gigante, bem ao estilo do filme “Transformers”, construído pelos liliputianos para desafiar Gulliver. Ou seja, invencionice hollywoodiana. O filme deixou de lado absolutamente toda a complexidade do livro, que se tornou um clássico que atravessa gerações. Há cópias em 3D, mas o filme não foi feito nesse formato. Os efeitos foram adicionados depois. As informações são do Jornal da Tarde.

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