Corrupção generalizada. Mentiras desfiadas sem o menor constrangimento. Nenhum vestígio de ética ou moral. Poderia ser a súmula do noticiário dos nossos dias. Mas é o enredo que move “A Bilha Quebrada”, texto escrito por Heinrich von Kleist, em 1811.
Obra clássica do período que antecede o romantismo germânico, a peça é um dos maiores sucessos da Cia. Razões Inversas. Em 1993, mereceu montagem do diretor Marcio Aurelio. E, agora, quase duas décadas depois, é por ele retomada. “Já se passou tanto tempo que, mesmo para mim, o texto teve um amadurecimento”, observa o encenador. “Abriram-se novas possibilidades.”
Parte do calendário de comemorações da companhia, que acaba de completar 21 anos, o espetáculo tem estreia marcada para amanhã, no Espaço Parlapatões. Ambientado no tribunal de um pequeno vilarejo holandês, trata dos desvios de caráter do juiz Adão: homem que se aproveita do pequeno poder que detém para manipular os outros e adquirir vantagens. Com inegáveis contornos contemporâneos – particularmente no Brasil -, a trama se movimenta a partir de um pequeno incidente: uma moringa, também conhecida como bilha, que foi quebrada.
Interpretada pela sempre vivaz Lavínia Pannunzio, a parteira Marta recorre à Justiça para reclamar a perda do objeto. Será essa situação, pretensamente banal, que revelará a verdadeira índole de cada um dos personagens envolvidos.
Toda a querela ocorre justamente no momento em que o povoado recebia a visita de um corregedor. Diante dele, o magistrado Adão (Joca Andreazza) tentará manipular o julgamento do caso da bilha. Reiteradamente, buscará incriminar um inocente. E, aos poucos, passará da posição de juiz à de réu. “Vivemos hoje um quadro de absoluta ausência de ética”, diz o diretor. “Fazer teatro é se posicionar política e esteticamente diante das coisas que estão acontecendo.”
Levada ao palco pela primeira vez por Goethe, a peça se sustenta em um arguto jogo de palavras. O duelo verbal vale-se do duplo sentido de vários termos e dos diálogos ágeis. Na atual montagem, o tom belicoso também está ressaltado pela cenografia de Marcio Aurelio: o tribunal onde se desenrola a história merece o formato de um ringue de boxe. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
A Bilha Quebrada – Espaço Parlapatões (Praça Franklin Roosevelt, 158). Tel. (011) 3258-4449. Sáb., às 21 h; dom., às 20 h. R$ 40. Até 11/12.