Estratégias criativas

Na ?corda bamba? do horário das sete, João Emanuel Carneiro parece ter a receita perfeita para o equilíbrio. Isso porque, mesmo com a estréia da nova concorrente -Bicho do Mato, da Record -, a audiência de Cobras & Lagartos vem subindo no ibope, semanalmente. Claro que a média de 34 pontos e 44% de ?share? não chega perto dos 47 pontos com 69% de participação de Da Cor Do Pecado – outra novela do autor exibida no mesmo horário na Globo, em 2004. Mas é inegável a sina de João Emanuel para emplacar tramas de sucesso. A receita ele não esconde. ?Gosto de novelas em que cada núcleo tenha sua própria história e não se reporte somente ao protagonista. Por isso faço tantas histórias?, valoriza o autor.

P – O Ministério Público do Rio de Janeiro ameaçou reclassificar Cobras & Lagartos por causa das cenas na Luxus – em que as modelos aparecem apenas de calcinha – e das cenas ?calientes? com os personagens Foguinho e Ellen, de Lázaro Ramos e Taís Araújo. Você vê exagero na medida?

R – Não acredito que a novela vá enfrentar qualquer tipo de problema. Ao contrário. Cobras & Lagartos não exibiu nada que não tenha sido mostrado antes em outras tramas. Essa, aliás, é uma novela viva no ar, muito provocante e instigante para o público. A trama levanta questões sobre ética e sobre o consumo desenfreado. Assuntos que são bastante atuais e, de certa maneira, inquietantes em nossa sociedade. Acho a novela positiva para a televisão.

P – O que o levou a escrever uma novela sobre a temática do consumismo?

R – Conheço pessoas que gastam o salário inteiro para comprar um sapato, uma roupa, um carro em crediário. É um hábito que tenho observado bastante e que acho maluco demais. Vejo isso como uma tendência da sociedade moderna. Por que que as pessoas são o que elas têm ou mostram? Por que suas casas e carros a descrevem? A novela fala bastante sobre isso.

P – Esse folhetim tem uma parte da história bastante realista e outra totalmente delirante. Esse era o seu objetivo desde o início?

R – Cobras & Lagartos tem um pé fora da realidade. Mas vejo a trama com uma base sólida de realismo. No meu modo de ver, o autor pode tudo, menos tirar os dois pés da realidade, porque perde-se a verossimilhança. Existe um ponto a ser encontrado. Afinal, o público tem de acreditar nessa história. Não é uma paródia e jamais poderá ser. É um drama e uma comédia.

P – O Omar, personagem de Francisco Cuoco, retornou à trama como um fantasma. Você acredita que sua saída tenha esvaziado alguma parte importante da novela?

R – Na verdade, a volta do Omar se deu dentro de um delírio de culpa do Foguinho. Agora, não vejo a saída dele como uma perda para a trama. A novela é arriscada em termos de narrativa, mas a história vem caminhando numa constante. Desde que o Omar morreu, a audiência de Cobras & Lagartos só cresceu. E diante dos resultados das últimas semanas, a novela já pode ser considerada um sucesso. A própria Record já estava perdendo a audiência, mesmo antes da estréia de Bicho do Mato.

P – Como você vê essa disputa entre Cobras & Lagartos e Bicho do Mato?

R – Esse horário das sete é o mais complicado para as novelas. Se observarmos a audiência, a conclusão é de que ela vai e volta. A cada intervalo, os telespectadores ficam ?zapeando? – o que não deixa nenhuma trama numa constante. Por isso, um folhetim das sete tem de estar o tempo inteiro entretendo. O que não acontece em novelas exibidas em outros horários. Essas sofrem bem menos com essa alternância no ibope.

* Cobras & Lagartos – Globo, de segunda a sábado, às 19h15.

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