É o que me disse por e-mail o estudante curitibano de ensino médio, de 17 anos, Carlos Alberto. ?O que é preciso? Como ser bem-sucedido na profissão? Quais são as características que um antropólogo precisa ter? Como e onde trabalha?? Perguntas tão inteligentes merecem respostas interessantes. Por isso apresento comentários de dois antropólogos, José Carlos Rodrigues, da PUCRJ-Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, José Jorge de Carvalho, da UnB-Universidade de Brasília, em entrevistas veiculadas na mídia, e da antropóloga Cecília Helm, da UFPR-Universidade Federal do Paraná, através de entrevista especial para este artigo.
Como ser um antropólogo? O primeiro passo é ver se gosta da área de Humanas. José Carlos Rodrigues, por exemplo, conta que ?quando chegou a época do vestibular, não sabia o que queria fazer, apenas que seria na área de Humanas. Quando fui fazer a inscrição para o vestibular, vi que existia o curso de Ciências Sociais. Até então nunca tinha ouvido falar nisso. Pedi para ver as disciplinas desse curso e vi que tinha Economia, Sociologia, Antropologia, História, Política, entre outras disciplinas que eu gostava. Optei, então, pelo curso de Ciências Sociais. Só no primeiro ano da faculdade descobri a Antropologia, pela qual me apaixonei?.
Cecília Helm acrescenta que além do curso de Ciências Sociais, a Antropologia é ministrada em diversos cursos de graduação como Nutrição e História entre outros. José Jorge de Carvalho explica que ao longo do curso os alunos estudam disciplinas como Antropologia do Meio Ambiente, Antropologia da Religião e Sexualidade.
O que é um antropólogo? Carvalho define o antropólogo como ?grande estudioso do ser humano. Esse profissional se responsabiliza pela análise das sociedades e das culturas dos povos. Com seu trabalho, o antropólogo tenta ajudar os homens a conviver com as diferenças. (…) A profissão representa uma luta constante para estreitar as relações entre os diferentes grupos sociais.?
O bom antropólogo. Para Carvalho, o profissional ?precisa se atualizar constantemente. Por isso a maioria dos graduados não pára na graduação. Busca mestrado e doutorado, fundamentais para o mercado de trabalho?.
Essa atualização é necessária porque, como comenta Rodrigues, ?a Antropologia lida com as grandes questões que afetam a humanidade e as grandes espécies; desde meio ambiente e guerra, até transformações revolucionárias; mas também olha para o detalhe, para o microscópico. O desafio intelectual do antropólogo é pensar no microscópico sem perder de vista as grandes questões?.
Oportunidades profissionais. Cecília Helm, que recentemente ministrou palestra na UFPR sobre laudos periciais antropológicos, área na qual atua com apoio de uma bolsa do CNPq-Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, está aposentada. Explica que além das atividades docentes e acadêmicas, os antropólogos trabalham na elaboração de laudos e outras atividades fora da academia. ?O Ministério Público Federal tem contratado antropólogos. Em Londrina, foi contratada uma antropóloga, devido aos inúmeros problemas apresentados pelas usinas hidrelétricas e linhas de transmissão de energia que atingem populações e comunidades indígenas. Ainda estão em discussão projetos hidrelétricos para a Bacia do Rio Tibagi?.
Alem disso, Helm explica que ?o antropólogo é contratado para fazer laudos sobre quilombolas. Pode trabalhar junto a órgãos de governos e ONGs-Organizações Não Governamentais, em Secretaria de Segurança Pública na questão da violência, em Secretarias de Saúde, em museus, em institutos ambientais. Na área de jornalismo e comunicação, o antropólogo de formação sólida e com espírito crítico faz boas reportagens. Em redação de revistas, como Veja e Isto É, e de jornais, como Folha de S. Paulo, deve haver um antropólogo para bem informar. ?O antropólogo atua em outras áreas do saber, colaborando na produção de políticas públicas em Antropologia Política, em Antropologia e Direito e em Movimentos Sociais. O importante é que faça uso de conceitos bem elaborados, deve contribuir para o desenvolvimento da Antropologia, agir com ética no exercício da profissão e trabalhar na defesa de populações menos favorecidas?.
Zélia Maria Bonamigo é jornalista, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social pela UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. zeliabonamigo@uol.com.br
