Alexandre Herchcovitch não quis nem discutir. “Moda é uma expressão cultural como qualquer outra. Não há mais o que falar sobre isso”, disse. E, em seu desfile, que abriu ontem, 29, o segundo dia da São Paulo Fashion Week Outono-Inverno 2004, levou a cultura de sua moda à cúpula do Teatro Municipal.
Ao som Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, que se apresentou ao vivo, o estilista mostrou uma impecável coleção inspirada na underwear feminina, mais precisamente as românticas camisolas do século 18. Como contraponto ao romantismo dos bordados, da renda e das cores suaves, o estilista trouxe a alfaiataria masculina, que foi desconstruída e reestruturada em casacos que se transformaram em vestidos, ganhando versões mais contemporâneas.
A linha de inverno passeia pelo romantismo, tem ar poético e de época, apostando em algodão, malha, lã e até em tecidos nobres como o cashmere e a renda. Se depender de Herchcovitch, o inverno vai ser delicado e leve, em tons de branco, bege, off white, cinza claro, passando pelo magenta e chegando ao preto.
Já a coleção que pretende apresentar com o apoio do incentivo fiscal, por meio da Lei Rouanet, e que vai abordar o movimento da antropofagia cultural brasileira, ainda é plano para o futuro. “Quando eu conseguir o patrocínio, será realizado o desfile. Nem comecei ainda o processo de busca de apoio. Mas será o caminho normal, de ir atrás e, então, realizar”, declarou o estilista.
O segundo desfile do dia, da Acquastudio, também teve apelo retrô e propôs o retorno da elegância da década de 1940. A estilista Esther Bauman criou silhuetas marcadas, formas ajustadas e alongadas para sua coleção de inverno. Quando criou a coleção, a estilista pensou em uma mulher feminina e forte, sexy e com estilo. Destaque para os bordados em pedraria feitos à mão em formato geométrico, que dedicam brilho às peças, e os florais e abstratos em linhas. Na cartela de cores, preto, vermelho, cinza e rosa claro.
Já Fernanda Yamamoto foi buscar nos anos 50 a influência certa para criar um inverno em que a feminilidade retrô encontra as artes plásticas. O resultado foi uma coleção rica em formas, imagens, cores e padronagens. Para esta coleção, a estilista pensou em silhuetas mais alongadas, como nos casacos, vestidos e saias godês de cintura alta e bem marcada. Fernanda brincou com a mistura de tecidos, recortes, sobreposições e volumes. Destaca-se o tecido que nasceu a partir de um desenho de canetinha, giz, lápis de cor e de cera, criado pela própria estilista.
O quarto desfile do dia, Vitorino Campos, também trouxe uma coleção baseada em formas amplas e soltas. Minimalista, o jovem estilista, que molhou a passarela por onde as modelos desfilaram sua linha de inverno – talvez em uma alusão à Pauliceia chuvosa -, apostou em uma moda sensual e bem estruturada. Camisas em manga curta sempre brancas ganharam remendos coloridos e com pedrarias para quebrar o ar de seriedade. As saias lápis marcam a cintura, alongam-se até o joelho e ganham sensualidade fendas que se estendem até o as coxas em um zíper aberto. Destaque para o trabalho de texturização, em que flores surgem a partir de círculos retorcidos em plástico.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.