Estava escrito nas estrelas?

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Margarita Wasserman

?Soy do cámpo, una cabocla…? E meu pai retrucava: ?É por isso que você tem um calo em cada dedo. Caipira, nunca usou sapatos…? Era o que eu escutava, quando criança, mas nunca ouvi um comentário maldoso a respeito de outras raças.

Tínhamos uma empregada negra, a Ervinha, nunca mais tivemos a roupa tão alva e a casa tão impecavelmente limpa como naquela época… Verdade que, meu irmão Carlito, aos seis anos, levou umas palmadas da mamãe por ter sido ?denunciado? pela Ervinha, porque ele, por ser mais velho do que eu (ele com 6 anos, e eu com 4), não deveria ter-me entusiasmado a ?fazer a travessia? (como ele dizia) daquela rua enlameada. Era a Rua Augusto Stelfeld, e nós morávamos na rua Colombo, hoje Clotário Portugal.

O papai sempre na porta da agência lotérica, conversando com todos que passavam, sem fazer restrição a idade ou cor. Foi nesse ambiente que eu cresci.

Os anos se passaram, e, hoje, agradeço aos meus pais por não terem inculcado em mim desrespeito a quem quer que seja. Hoje, choro a morte do meu querido amigo Jamil Snege, filho de árabes e, eu, filha de judeus.

Choro de pura raiva e frustração: ?Turco desgraçado?, porque não se cuidou? Seu egoísta, então você não sabia que tanta gente iria desnortear com tua morte? Mas espero, um dia, nos encontrarmos, e daí, vou exigir uma explicação para essa ?falseta?. Ou já estava escrito nas estrelas?…?

Margarita Wasserman é escritora e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

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