Quando criança, o mexicano Alfonso Cuarón queria ser astronauta ou diretor de cinema. No domingo, 2, ele se transformou no primeiro cineasta latino-americano a ganhar um Oscar de direção justamente por um filme que se passa quase que inteiramente no espaço, Gravidade.

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O prêmio foi festejado no México, com os jornais de segunda, 3, estampando manchetes ufanistas, o presidente Enrique Peña Nieto cumprimentando o cineasta pelas redes sociais e celebridades, como o ator Gael García Bernal, confessando ter chorado de emoção. A euforia se completava com a também vitória de outro mexicano, Emmanuel Lubezki, Oscar de fotografia, e, forçando um pouco, pela estatueta conquistada por Lupita Nyong’o – ela nasceu no México, mas se mudou ainda pequena para o Quênia. Nem a Nasa deixou de cumprimentar Cuarón, apesar de alguns erros astronáuticos apresentados no filme.

Mesmo com tanto tapinha nas costas, Cuarón não escapou de alguns olhares enviesados de críticos que não consideram o feito histórico. Afinal, Gravidade foi realizado com capital inglês e rodado quase que inteiramente com uma equipe formada por não-mexicanos. E o cineasta já vive, há alguns anos, em Londres.

Assim, logo que chegou à entrevista coletiva depois da cerimônia do Oscar, já na madrugada de segunda-feira no Brasil, Cuarón foi primeiro interpelado por um jornalista mexicano: “O que significa esse prêmio para o México?”

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“Como mexicano, sempre contei com o apoio dos meus conterrâneos para ganhar essa estatueta”, disse. “Mas, não venho observando uma devida atenção às expressões surpreendentes da cultura mexicana que acontecem atualmente dentro do meu país. Gostaria que os artistas recebessem lá o mesmo apoio que outros, como eu, ganham no exterior.”

Sua resposta segue a mesma linha levantada por um de seus críticos, o grande cineasta mexicano, Arturo Ripstein, que, na semana passada, criticou seus conterrâneos pela grande expectativa em torno do Oscar. “Dizer que Gravidade é mexicano é o mesmo que dizer que O Bebê de Rosemary é um filme polonês”, ironizou ele, referindo-se ao trabalho americano do diretor Roman Polanski, nascido na Polônia.

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Ao receber a medalha das Belas Artes, Ripstein pediu a produtores e cineastas do país para defender os filmes que retratam a cultura e realidade mexicanas, em vez de ostentar orgulho pelo sucesso daqueles que deixaram o México para trabalhar em outro idioma.

Cuarón, no entanto, evitou se alongar no assunto, preferindo ressaltar as qualidades da equipe de produção, responsável por efeitos especiais de tirar o fôlego. Reservou também especial atenção ao elogiar a atriz Sandra Bullock. “Ela me surpreendeu”, confessou. “Sandra sempre manteve calmo o ambiente de trabalho. Apesar das difíceis condições de filmagem, ela criou uma relação comigo a ponto de parecer que estávamos fazendo apenas uma cena na mesa de jantar. Não houve nenhum obstáculo em relação às cenas físicas mais difíceis ou mesmo naquelas em que era obrigada a fingir que estava no espaço. Sandra revelou um fantástico poder de abstração. E, se o público se conecta com o filme, é principalmente por causa dela.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.