Está em gestação uma nova safra de “sitcoms” da televisão brasileira

Em formato até recentemente pouco explorado no Brasil, as “sitcoms” ou “comédias de situação” prometem proliferar nas emissoras de tevê em 2004. Atualmente, sete projetos de seriados humorísticos, de quatro emissoras diferentes, disputam uma vaga na grade de programação do próximo ano. Só a Globo está testando quatro pilotos que têm algum parentesco com o formato: Papo de Anjo, A Diarista, Carol & Bernardo e Sob Nova Direção. Mas Record e Rede TV! também vêem um futuro promissor para as “sitcoms” e já começam a investir em um produto que tem orçamento reduzido e boa aceitação de público. Até o SBT, quem diria, já pensa em desengavetar o seriado Meu Cunhado, pronta há mais de um ano.

“Na história da tevê, sempre houve períodos em que se apostam mais ou menos em séries. Já houve muito seriado de humor como A Grande Família, mas Os Normais foi a primeira ?sitcom? brasileira com um olhar para o modelo internacional”, acredita José Alvarenga, diretor de Os Normais e de dois dos quatro novos projetos da Globo, Papo de Anjo e A Diarista.

De fato, Os Normais e A Grande Família são responsáveis pelo “boom” que promete invadir a tevê brasileira no ano que vem. Até pouco tempo, as duas séries alcançavam, respectivamente, média de 25 e 40 pontos de audiência, índice considerado ótimo para os respectivos horários. Não por acaso, os dois dividiram o primeiro lugar da categoria “Melhor Série Nacional”, na eleição “Melhores & Piores” de 2003 de TV Press.

Para o redator-final de A Grande Família, Cláudio Paiva, o sucesso das “sitcoms” pode ser explicado também por elas serem bem parecidas a outro formato bastante familiar do brasileiro: as telenovelas. “Vivem me perguntando quando vou escrever novelas. Mas A Grande Família funciona como uma novela moderna, com apenas um capítulo por dia. Ela utiliza elementos próprios do folhetim, como elenco fixo e tom realista”, compara.

Redatores em falta

Já o superintendente artístico e de programação da Record, Luciano Callegari, admite que não faltam idéias para a emissora aderir ao formato. Faltam sim, ressalva, bons redatores. Por conta disso, o apresentador Netinho resolveu se associar à produtora Picante Pictures, radicada em Miami, para viabilizar o projeto de fazer a primeira “sitcom” brasileira centrada em um personagem negro. Algo nos moldes da série de Bill Cosby. “Não temos estrutura para competir com a Globo, que tem os principais autores. A saída é treinar novos roteiristas. Existe uma brecha no mercado para ?sitcoms?. Quem se aperfeiçoar vai ganhar mercado”, vislumbra Netinho, que despertou o interesse da Picante Pictures por causa de A Turma do Gueto, projeto do qual se afastou por não concordar com os rumos adotados, com ênfase na violência.

Quem também está de olho na tal “brecha no mercado” é a Rede TV! Tanto que a emissora já analisa currículos e idéias de profissionais dispostos a desenvolver pilotos. A diretora artística da emissora, Mônica Pimentel, garante que, por enquanto, não há nada confirmado para 2004. “Estamos analisando roteiros. Produzir ?sitcoms? vai ser um ganho para a emissora, a nossa porta de entrada para a teledramaturgia”, afirma ela. Por isso mesmo, a Rede TV! já vem exibindo, pelo segundo ano consecutivo, um especial natalino que pode servir de base para uma futura “sitcom”. “O povo está cansado de ver histórias policiais, tiroteio, assalto… É muita tragédia junta. Humor dá sempre mais audiência”, acredita João Kleber, autor e diretor de Quem Te Viu, Quem Te Vê.

Em meio a um vácuo criativo

Procuram-se roteiristas. A falta de bons redatores no mercado é um dos principais motivos para o entrave na produção de mais e melhores “sitcoms”. No SBT, por exemplo, o veterano Moacyr Franco, além de protagonizar Meu Cunhado, ainda escreveu boa parte dos 42 episódios da série. O interesse por “sitcoms” atualmente é tanto que até o SBT já pensa em desengavetar a série, pronta desde o ano passado. Em Meu Cunhado, Moacyr interpreta o empresário que tem de aturar um cunhado “mala”, vivido por Ronald Golias. “Como o programa é semanal, não dá tempo de aprimorar o texto. Precisamos de mais roteiristas. Isso ajuda na hora da interpretação”, reivindica Golias, que interpreta o personagem-título da série.

Paralelamente a algumas emissoras de tevê, como Rede TV! e Record, produtoras independentes também estão investindo no formato. Ex-diretor de produções internacionais da Globo, José Paulo Vallone está retomando o comando da produtora JPO, que já fez novelas para o SBT, Dona Anja, e Record, Estrela de Fogo e Tiro e Queda. Além de voltar a produzir folhetins, a JPO está com três projetos de “sitcoms”, todos eles sob a responsabilidade do autor Yves Dumont. “A nossa maior preocupação é adaptar um formato de reconhecido sucesso nos Estados Unidos a uma realidade tipicamente brasileira”, pondera o autor.

Nesse quesito, a escritora Fernanda Young revelou-se uma grata revelação. Ao lado do marido, o publicitário Alexandre Machado, ela foi uma das responsáveis pelo sucesso de Os Normais. “Desde o começo, optamos por um humor instigante que respeitasse a inteligência do público. Não queríamos nada depreciativo, do tipo ?Olha como é engraçado ser ignorante?”, ensina. Para quem está com saudades de Os Normais, um aviso: ela e o marido já começaram a escrever Esculhambação, que vai explorar o péssimo hábito do brasileiro de falar mal dos outros. A previsão de estréia é 2005.

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