O teatro paranaense deve muito de sua história a Ari de Oliveira, ou Ary Pararraios. É a primeira lembrança ao se chorar sua morte, aos 62 anos. Depois de dirigir peças do grupo XPTO e de Denise Stoklos, além de ter comandado a noite curitibana com suas boates, entre elas a Guarda-Chuva, ele foi fazer teatro no Distrito Federal e militar na frente de defesa da natureza como jornalista. Foi sua fase Esquadrão da Vida.
Com o Esquadrão, ele retornou a Curitiba, no início dos anos 80, realizando memoráveis intervenções de rua.
Ary Pararraio também fez cinema; era excelente ator. Mas foi como diretor teatral que sua irreverência e genialidade intuitiva melhor se expressaram. E foi dirigindo uma peça de Dias Gomes, em pleno Teatro da Reitoria, que ele deu posse à diretoria da União Paranaense dos Estudantes, então na clandestinidade devido aos rigores da ditadura.
Ary Pararraio enfrentou a censura com o grupo XPTO, encenando A Morte de Joaquim Silvério dos Reis, de Manoel Carlos Karam, em 1969. “Ele foi responsável pelo clima teatral em Curitiba nos anos 60 e 70. Fez trabalhos importantes, ainda que uns odiassem e outros amassem”, recorda Karam.
Antes de Hair, o elenco já ficava nu no acanhado Teatro de Bolso, na Praça Rui Barbosa, graças a Ary Pararraio, que também está na biografia do rock curitibano. Ele foi o primeiro diretor a colocar um grupo musical em pleno palco, acompanhando o enredo de uma peça. É o caso de A Semana, de Denise Stoklos e protagonizada por ela. Em cena estava também a banda A Chave. Seu ex-baterista, o fotógrafo Orlando Azevedo, sintetiza os sentimentos nossos: “Ary, que os astros o tenham, pois conosco sempre estará. É uma figura maravilhosa, única. Ficamos mais uma vez órfãos. A geração anos 60 vem perdendo muita gente bonita”.
Depois de padecer de câncer no fígado, Ary faleceu em Brasília, onde foi sepultado ontem. Deixou uma penca de filhos e amigos.