A premiada companhia teatral paranaense Vigor Mortis faz a estreia nacional do espetáculo Nervo craniano zero amanhã, às 21h, no Teatro da Caixa. A peça, escrita e dirigida por Paulo Biscaia Filho, marca a volta do grupo ao estilo tradicional do Grand Guignol, com uma roupagem que rende homenagem a filmes do cineasta canadense David Cronenberg e a obras de terror italianas da década de 70 e 80, de Dario Argento e Lucio Fulci.
A trama trash uma das mais sangrentas da história da Vigor Mortis – conta a história de três mulheres: A dra. Barbara Bava (Simone Martins) que perdeu sua licença médica após um acidente durante pesquisas com a criação do chip Melpomone: um indutor de dopamina instalado no nervo craniano zero; Bruna Bloch (Michelle Pucci), uma escritora de sucesso que teme não ter mais inspiração para escrever; e Cristi Costa (Rafaella Marques), uma simplória garota do interior que vira cobaia humana.
Os destinos dessas três mulheres se cruzam quando, depois de perder o marido durante a criação de sua invenção, a doutora Bárbara é contratada por Bruna Bloch que morre de medo de não conseguir mais escrever nenhum livro de sucesso. Cautelosa, ela coloca um anúncio no jornal para que uma cobaia humana teste o chip antes.
A única a responder é Cristi, que pretende ser uma grande cantora e é humilhada nacionalmente em um programa de calouros na TV. Sem nada a perder, a moça aceita implantar o chip Melpomone em seu Nervo Craniano Zero.
O autor e diretor Paulo Biscaia Filho conta que essa é a décima segunda peça da Vigor Mortis e que nesse texto escrito inicialmente em 2007 a ideia é voltar às raízes do Grand Guignol, que foi onde a Vigor Mortis começou.
“Depois de todos esses anos de companhia é bom voltar ao princípio com uma visão da carga que a gente já tem”, conta explicando que uma das referências iniciais para a montagem também foi a filmografia do diretor David Cronenberg. “Um negócio que está sempre presente nos filmes dele é a modificação do corpo para criar coisas novas. O corpo entra em mutação ou é feita uma interferência científica para que ele se transforme em outra coisa”, explica.
Para que essas transformações aconteçam em cena, Biscaia não poupou sangue. Ele revela que essa é a produção mais sanguinária da Vigor Mortis pois o público vai assistir no palco a uma operação no crânio, corações arrancados, tesourada na nuca, uma tripa puxada e no final uma máquina de escrever com tachinhas nas teclas que furam o dedo de quem digitar.
“O Nervo é uma volta ao trash que é levado a sério pela companhia. Ou seja, a gente não ri da própria piada e faz de tudo para a cena parecer séria, mas temos consciência que ela é engraçada também.”
Sobre as inevitáveis comparações entre essa montagem e o grande sucesso da companhia, a peça Morgue story, Paulo Biscaia acredita que exista uma expectativa natural do público.
“Acho que as comparações sempre vão existir, mas eu não gosto de criar expectativas, pois podem acabar em decepção. Eu quero fazer espetáculos diferentes e bacanas. E não repetir as mesmas fórmulas. O Nervo craniano zero é uma peça dentro dessa proposta que a gente acredita e procura elaborar, para sair do nosso próprio lugar comum e trazer coisas novas. Isso foi uma coisa que eu bati bastante na tecla da concepção cênica e na interpretação das atrizes. Eu procuro fazer um espetáculo empolgante para que a platéia no final saia satisfeita de ter ido ao teatro”, finaliza.
Serviço
Nervo craniano zero, de Paulo Biscaia Filho. Estreia amanhã, às 21h, no Teatro da Caixa (Rua Conselheiro Laurindo, 280). Sessões de qu,inta a sábado às 21h e domingo às 19h. Ingressos: R$ 20 (inteira). Classificação: 14 anos.